Papo de Varzea

Copa da Paz: protesto contra violência vira um dos torneios mais importantes da várzea de SP

UOL Esporte

A Copa da Paz nasceu como um protesto. Em 2008, a zona zona sul de São Paulo aparecia na TV e nos jornais como um dos locais mais violentos do planeta, onde chacinas eram frequentes e as pessoas tinham medo de sair às ruas. Mas quem morava por lá via outro cenário.

Existia, sim, muita violência. Mas também havia vida e alegria. E como mostrar essa realidade? Um grupo de varzeanos legítimos, moradores de Paraisópolis, que já foi uma das favelas mais conhecidas (e temidas) da cidade, apostou no futebol.

Nascia, então, a Copa da Paz. Um campeonato de futebol de várzea com 16 times da própria comunidade de Paraisópolis e 16 times de fora. “O objetivo era unir as quebradas. Falavam que a região era violenta. Que tinha guerra, mas ninguém se conhecia. Então resolvemos nos conhecer”, conta Bruno Melo, vice-presidente do Palmeirinha, um dos times mais conhecidos da comunidade.

 

Deu certo. Em uma visita à Heliópolis, outra comunidade que nasceu de uma favela gigante, a Copa da Paz foi elogiada justamente pela união que promoveu. O mesmo acontece em outros campos. Times de longe, das zonas norte e leste, são só elogios. A arquibancada está sempre lotada, com baterias animadas e queima de fogos.

Em 2013, o Palmeirinha organizou a sexta edição do torneio. Pela segunda vez, sem patrocínio. O acordo com uma marca de bebidas acabou no ano passado e o dinheiro ficou curto. A organização cobrou uma taxa de inscrição (nos anos anteriores, as equipes pagavam com cestas básicas que eram distribuídas na própria comnunidade) e, mesmo assim, teve de se virar com apenas um quarto do dinheiro que tinha em 2012.

Para manter a premiação (R$ 12 mil para o campeão, R$ 5 mil para o vice e R$ 2 mil para o 3º colocado), o presidente do Palmeirinha, seu Chiquinho, apelou para suas economias. “Ele tirou o valor que faltava da aposentadoria. A gente teve de se sacrificar”, diz Bruno.

E não foram só eles: no ano passado, quem trabalhou no torneio recebeu uma ajuda de custo – ou seja, além de promover Paraisópolis, a Copa da Paz ainda movimentava a economia local. Neste ano, o trabalho foi voluntário. O pior: nem todas as contas foram quitadas. Taxas de água e luz seguem abertas e devem ser parceladas. “Foi um sacrifício, mas estamos contentes com o resultado. Já estamos começando a buscar parceiros para que, no ano que vem, as coisas sejam mais tranquilas”, completa Bruno.

Para completar, vamos ao mais importante: os resultados no campo! No último sábado, o Vida Loka, da favela da Felicidade, venceu a final contra o Dragões, do Jardim Educandário, por 2 a 1, e conquistou o bicampeonato (assista ao vídeo acima, vale a pena). Em terceiro lugar ficou o Tiradentes, da Vila Curuçá, que bateu o Unidos, do Jardim Lídia, por 1 a 0.