Papo de Varzea

Você já fez peneira? Um brasileiro foi para a Inglaterra por causa de uma

Papo de Várzea

alexandre teixeira

Você já passou por uma peneira? Eu já. Tinha dez anos e estava buscando uma vaga em uma seleção brasileira que iria fazer alguns jogos nos EUA. Lembro como se fosse hoje: joguei na lateral direita, toquei na bola uma vez, acertei o meu passe, mas foi só isso, em um jogo de 30 minutos. Meus pais estavam acompanhando e devem ter ficado decepcionados com minha participação quase nula. Quando os técnicos chamaram todo mundo para o meio do campo e anunciaram os convocados, eu não estava na lista.

Sinceramente, não tinha futebol para entrar no time. O problema é que nenhum dos técnicos sabia disso. Duvido que tenham sequer me notado, esquecido na lateral direita. Peneira é coisa de meia e atacante. São eles que dominam a posse de bola, não costumam tocar para ninguém, tentam dribles e chutes que dificilmente dão certo.

Todo dia, sonhos de garotos (que são bons de bola de verdade) morrem em peneiras exatamente como essa. Gente que tinha muito mais futebol do que eu passa testes inteiros sem nem mesmo encostar na bola. “Obrigado. Não desiste. Tenta em outro lugar”. Esse modelo é complicado demais. Principalmente no Brasil, onde existe talento de seleção brasileira em cada campinho de várzea.

Bom, se os clubes não dão conta, marcas esportivas estão tentando suprir esse espaço. A Nike por exemplo, finalizou, no domingo (30), mais uma edição de sua peneira global – que começou em 2010 como ''A Chance'' e hoje se chama ''Os procurados''.

No Brasil, 1.100 garotos enfrentaram o processo (e peneiras como essa foram feitas em mais de 30 países). Os primeiros testes são como máquinas de moer carne: quem entra inteiro, sai despedaçado. E só aqueles que unem talento extremo com muita sorte avançam. Dois garotos, um do Rio de Janeiro, um de São Paulo, foram aprovados e viajaram para a Inglaterra, para um fim de semana de treinos na Nike Academy, onde a seleção da Inglaterra costuma treinar.

O paulista era o zagueiro Kaique Teixeira. O carioca, Alexandre Teixeira. Os sobrenomes são iguais, os estilos, bem diferentes. Enquanto Kaique é um defensor clássico, daqueles que não chamam muita atenção, ao estilo Thiago Silva, Alexandre é um ponta clássico, jogador de lado de campo, driblador e incisivo. Foram dois dias de testes. Como é uma peneira, você já deve imaginar o resultado…

Alex foi aprovado. Nas palavras do técnico John Goodman, o atacante é “um garoto muito talentoso, que entende sua posição e é muito bom no um contra um”. Ao seu lado, passaram também um volante polonês, um goleiro espanhol, um atacante sueco e dois meio-campistas, um alemão e um inglês. Todos vão ficar três meses por lá, de janeiro a março do ano que vem, treinando e conhecendo novos estilos de futebol. Para o brasileiro, será uma experiência e tanto.

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Na edição do ano passado, um zagueiro nascido por aqui passou por isso. Bruno Covas superou todo esse processo e, quando voltou, assinou contrato com o Santos. Hoje, joga no time sub-20. “Ter tido essa experiência de treinar por 3 meses e jogar com toda a estrutura de clubes da Europa me trouxe uma bagagem muito importante para o meu futuro no futebol. Aprendi o idioma, conheci o jogo mais cadenciado que rola por lá, e até já sonho com as Olimpíadas 2016 aqui no Brasil”.

Eu queria ter tido uma oportunidade como essa.

Por Bruno Doro