Papo de Varzea

Dez dicas de um jogador que passou por peneira até na Inglaterra

Papo de Várzea

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A partir de janeiro, o carioca Alexandre Teixeira vai treinar por três meses no centro de treinamento da seleção da Inglaterra, em Londres. O objetivo é convencer um clube europeu a apostar em seu talento. Serão 12 semanas de preparação por lá, uma verdadeira mega-peneira.

E de peneiras ele entende. Aos 16 anos, ele é um especialista no assunto. Já passou por cinco clubes diferentes, com peneiras em cada um deles, além de testes frustrados em outros clubes. Só para ganhar a oportunidade de ir para a Inglaterra, para participar do programa Os procurados, da Nike, ele passou por testes no Brasil reunindo cerca de cinco mil garotos.

Foram peneiras para entrar na seleção do Aterro do Flamengo, tradicional reduto das peladas no Rio. Testes para ficar entre os melhores do Brasil nos Procurados. E três dias jogando na Inglaterra, para ser um dos oito escolhidos para o estágio final de três meses no CT inglês.

Para quem quiser seguir seus passos, aqui vão as dicas:

A bola tem uma língua própria

Quando fui para a Inglaterra, eu só falava o básico do inglês. Às vezes, os técnicos começavam a falar e eu não entendia tudo. Alguns falavam muito rápido. Mas quando a bola rolava, o futebol tem uma língua própria, você acaba se entendendo.

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Faça amigos

Nos momentos em que eu não entendia, era só olhar ao lado. Como tinha jogadores de mais de 30 países por lá, todos estavam na mesma situação. Então, um ajudava o outro.

Jogue no ataque

Um dos problemas das peneiras é que você precisa aparecer. Os atacantes e meias pegam mais na bola. Mas depende muito do time que você pega. Se cair em um time bom, quem joga para frente vai aparecer mais. Mas, se seu time for ruim, quem vai aparecer mais são os zagueiros. Depende de você buscar o jogo.

Vá para cima

Na peneira, às vezes é preciso ser fominha. Você precisa impressionar quem está fazendo a observação. E o foco é, sempre, ver se o jogador consegue mostrar que tem chegada na área. É importante ter foco nisso e chamar atenção para você.

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Saiba a sua posição

Eu fui aprovado na Inglaterra porque os técnicos disseram que eu sabia exatamente o que minha posição exigia. Eu joguei de meia aberto, mais ou menos como faz o Willian, no Chelsea. É preciso saber se posicionar e chamar o jogo. Saber o momento para driblar, de ir para cima.

E se comunique

Não é só a sua habilidade que conta. Sua capacidade de liderança também é avaliada. Por isso, fale. Grite. Tente orquestrar seu time, mostre que você também pensa no coletivo. Quem é tímido não tem vez.

Ignore as provocações

Principalmente no Brasil, eu já ouvi muita coisa de zagueiro. Intimidação mesmo. Começava com “Daqui você não passa”, passava por pisão no tornozelo e acabava com “Vou quebrar o seu joelho”. É só não ligar e fazer o seu jogo.

Provoque também

Quando você consegue aquele drible bonito, passa pelo zagueiro que tentou te intimidar, é sempre bom retribuir. Quando algum zagueiro me irrita, eu costum responder, depois do drible: “Ué, você não ia me quebrar?” ou então “Ih, está me procurando até agora…”

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Busque sempre a próxima peneira

Eu comecei a jogar bola na rua, passei pelo futebol de salão e fui para o campo. Foram muitos testes. Você tem de estar disposto sempre a procurar lugar para fazer testes. Nunca tive empresário, então fui sempre buscando as peneiras. Perguntando, sem ter vergonha. Fiz uma em Itaguai em que passei por três dias e fui dispensado.

Não desista

Meu último clube foi o Búzios. Quando o time terminou, desanimei. Achei que o sonho de ser jogador tinha acabado. Quando entrei na seleção do Aterro, tive de enfrentar mais de cinco mil garotos por uma vaga. Não desisti e hoje tenho a chance de passar três meses na Inglaterra.

Por Bruno Doro