Com mais de 4.000 na beira do campo, clássico da Cidade Tiradentes “multiplica rivalidade por 1.000”
UOL Esporte
Rivalidade é o que mais se encontra no futebol de várzea de Sã Paulo. Mas poucas são tão grandes quanto SDX (o novo nome do Sedex) e Verona. Os dois são da mesma quebrada, Cidade Tiradentes, na Zona Leste da cidade, mas esse fator, no lugar de aliviar a tensão, só coloca mais gasolina nessa fogueira. Para entender o clima, multiplique por 1000 a intensidade da rivalidade que você conhece. Agora, se esse jogo passar de um simples amistoso e valer alguma coisa, multiplique novamente por 1000. Quando o resultado depender do confronto direto, então, segura!!!
O empate em 1 a 1 no último domingo, com mais de quatro mil pessoas na beira do campo, foi assim. O SDX já estava classificado, mas o Verona precisava de um empate para passar para a próxima fase. As torcidas chegaram separadas, cada uma com suas bandeiras. As baterias avisavam quem estava na área. Mesmo com todo o campo para se acomodar, as duas ficaram lado a lado, separadas apenas pela linha imaginária e tênue do respeito, atrás do gol, no fim do campo. Tenso: qualquer faísca bastaria para explodir a bomba.
As preleções foram de arrepiar alma, de trazer a aura da guerra e deixar os nervos a flor da pele. Os dois times não cansavam de ressaltar a rivalidade, a raça, a garra e a importância do jogo. No campo, a partida foi quente, estralada. O Verona começou o jogo estudando o adversário, enquanto o SDX ia para cima querendo jogo. Conseguiu manter a posse de bola, quebrando as jogadas do Verona, que tentava, mas não se achava. Esse domínio nos primeiros 15 minutos resultou no gol do SDX.
A torcida explodiu. O gol tinha um sabor muito maior do que simples vitória. Era o sabor de eliminação do rival. No segundo tempo, a temperatura subiu ainda mais. O Verona seguia em busca do empate, mas via o rival com o jogo na mão até então. Mas quem estava perdendo acordou. E foi para o tudo ou nada.
A pegada aumentou, faltas e entradas duras passaram a ser cometias. Algumas eram leais, outras, crocodilagem. Muito falatório com o juiz, discussão entre os jogadores. Sem muita violência, mas era possível ver que o espírito do jogo tinha mudado. O Verona queria mais o resultado do que o SDX, que só se segurava. De tanto tentar e brigar, o Verona conseguiu um pênalti.
Parar a bola na marca da cal, que parecia mais um cone do que uma simples marcação, foi difícil. O jogador correu, bateu e o goleiro defendeu. A bola voltou no rebote para o próprio batedor. No quique da bola nos morrinhos, subiu lascada e, com o chute de de chapa, subiu. O silêncio da torcida do SDX passou para a do Verona. A torcida amarela, do SDX, começou a fritar, uma mistura de comemoração de gol, de eliminação do rival.
Do lado em desvantagem, poucos jogaram a toalha. Muitos falavam em esperança, mesmo não passando toda essa confiança. Empurrados por esses sonhadores, no último lance, numa jogada pela direita, num toque para a entrada na área, o jogador do Verona meteu na gaveta. Indefensável. Golaço. Alívio da torcida do Verona, que se classificava. Coisas do futebol, coisas do jogo que só acaba quando termina, coisas de superação, coisas que, para entender, demora um tempo.
Um tempo de cada time. Um jogo brigado até o final. Duas torcidas rivais que souberam se respeitar. Um presente para o bairro, que completou, naquele dia, 29 anos.
O texto acima (e o vídeo também) é de Carlão Carbone, parceiro do blog, que toda semana acompanha uma partida para o Papo de Várzea e manda uma crônica com a visão dos alambrados do futebol de várzea. Mais vídeos podem ser vistos na página de futebol amador da TV UOL (http://tvuol.tv/bqc7Sd).