Papo de Varzea

Jogador Infiltrado: torcida faz festa, mas pode expulsar jogador antes de chegar ao vestiário

UOL Esporte

Torcida faz festa, mas pode expulsar jogador antes de chegar ao vestiário

Futebol de várzea é parecido com futebol profissional também entre os torcedores. Eles vivem a realidade dos clubes. Algumas torcidas têm mais de 20 mil pessoas cadastradas. O torcedor bota jogador que não está bem para correr, faz concentração antes da partida e participa até da preleção.

Muita gente acha que é mentira, mas a pressão em alguns clubes de várzea pode, sim, ser comparada com a de grandes times do futebol profissional. Os atletas são mais do que jogadores. São os representantes e defensores do bairro, da comunidade. São guerreiros da quebrada lutando contra a outra. Quando ganha, está tudo lindo. Se pipocar, o bicho pega.

Torcedor não está nem ai se o jogador está machucado ou tem algum problema físico. Tem que entrar e representar. Dar a vida pela comunidade. É muito comum jogador amarelar em alguns jogos. E a torcida não alivia. Vira faixas de cabeça para baixo, monta cartazes de protesto. Chegam até a partir “pro pau” contra alguns. Já vi o nome do cara com uma caveira em uma faixa. Acredite, é uma ameaça séria…

A pressão é grande, mas o apoio também. Independentemente da função no clube, quando o juiz apita o início, todos se dividem em dois grupos. Torcedores e Jogadores. Diretor vira torcedor-surtado. Puxa os gritos. Dá palestra no vestiário e depois vai para a arquibancada fazer festa. É uma família. E, como em toda família, brigas podem acontecer.

Isso acontece quando alguém está dando migué ou pipocando. Ninguém admite isso: ou você representa ou está queimado. Um caso mostra bem isso: um jogador, que veio de fora da comunidade, não aguentou a pressão e, quando acabou o jogo, não passou pelo vestiário com medo de tomar porrada.

Mas nem tudo é ameaça. A torcida faz um espetáculo lindo, bem organizado, com faixas, cantos, chuva de papel picado. Às vezes, parece até jogo de Libertadores. Até autografo eu já dei! Quem está envolvido vive de corpo e alma o futebol de várzea. Na maioria das vezes, tiram dinheiro do próprio bolso para bancar festas e “resenhas” . Às vezes, cobram os atletas, mas a malandragem come solta. Por isso, dar a vida nos jogos é questão de honra. Quem sabe lidar com isso vira herói. Mas quem não segue essa linha, corre no asfalto de chuteira!

 


Quando o UOL Esporte mergulhou no futebol de várzea, viu que as pessoas eram atenciosas, mas evitavam alguns assuntos. Quanto os jogadores ganham? Como é a relação jogador/treinador? Torcida tem poder? Para responder a tudo isso, o Papo de Várzea encontrou um espião. Ele é um veterano do futebol amador que aceitou contar  os segredos do futebol amador. A cada mês, um tema novo!