Hoje na várzea, jogador deixou o Anzhi, da Rússia, após ser chamado de macaco
UOL Esporte
Aos 35 anos, Róbson é conhecido na várzea de São Paulo. Meia-atacante rápido e habilidoso, foi semifinalista de duas edições da Copa Kaiser. Hoje, joga no Família 100 Valor, do Jardim Panamericano, uma das surpresas da edição 2013 do torneio- no domingo, ele enfrenta o Pioneer/Vila Guacuri, pela segunda rodada das oitavas de final, às 13h, no estádio do Nacional, na Barra Funda. A alegria que o jogador exibe nos campos de terra de São Paulo, porém, escondem uma história de preconceito vivida na Rússia.
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Em 2003, o jogador passou pelo Anzhy Makhachkala. O time, do Daguestão, uma república separatista da Rússia, ficou famoso nos últimos anos pelos gastos desenfreados do magnata Suleyman Kerimov com jogadores famosos. Entre outros nomes de peso, a equipe contou com os brasileiros Roberto Carlos e William e com o camaronês Eto’o. O primeiro se aposentou dos gramados com a camisa do clube. Os outros dois acabaram de ser vendidos para o Chelsea, após Kerimov anunciar corte de gastos e decidir vender suas estrelas.
Quando Róbson defendeu o clube, porém, a situação era modesta. O Anzhi tinha acabado de ser rebaixado da Premier League para a Primeira Divisão do futebol russo – que, na prática, era a Segundona. Com pouco investimento, apostou em estrangeiros. O elenco já tinha outro brasileiro, William Oliveira, que tinha chegado um ano antes. Mesmo assim, a situação que encontrou na equipe foi das piores: ele foi um dos primeiros negros a vestir a camisa do clube e sentiu o preconceito.
''Não foi uma passagem nada boa. Sempre que eu entrava em campo, os torcedores faziam gestos de macaco nas arquibancadas. Até os companheiros de time me tratavam de maneira diferente. Eu não entendia nada o que eles falavam nos treinos, mas o outro brasileiro do time, o William, entendia. Quando o treino terminava, ele me contava o que tinha sido falado. Eles também me ofendiam. Aguentei a situação por um ano. Não cheguei a reclamar, mas no meio da segunda temporada pedi para rescindir o contrato. Não dava mais'', lembra o meia.
Enfrentando oposição interna e dificuldades de adaptação ao clima, a passagem de Róbson pelo Daguestão foi ruim. Segundo o site oficial do Anzhi (que o chama de Róbson Paolo, não Paulo), ele defendeu o clube em apenas cinco partidas, quatro pela Primeira Divisão e uma pelas oitavas de final da Copa da Rússia. Não marcou gols e somou um cartão amarelo. ''Além do preconceito, a dificuldade com o frio foi muito grande. Para você ter ideia, desembarquei em Moscou só com camisa, sem jaqueta, nada. Fiquei esperando morrendo de frio até a bagagem ser liberada''.
Histórias como a de Róbson são frequentes no futebol russo. Quando jogou por lá, Roberto Carlos, apesar do status de estrela que tinha, sofreu na pele a intolerância das arquibancadas: em uma partida contra o Krylia Sovetov, o lateral saia de campo com a bola do jogo e um torcedor atirou uma banana em sua direção. Roberto Carlos, então, atirou a fruta de volta para a arquibancada, jogou a braçadeira de capitão de sua equipe no chão e reclamou com o juiz da partida. ''O ato racista, como qualquer outro comportamento agressivo, deve ser erradicado porque não tem lugar na vida cotidiana ou nos estádios'', reclamou Roberto Carlos.
Apesar do fracasso em seu único contrato profissional no exterior, a carreira de Robson dentro do Brasil foi sólida. Antes da Rússia, passou 12 anos no Juventus, entre categorias de base e o profissional. Em 1997, foi vice-campeão da Série C. ''Até hoje, é minha principal conquista, por ser no time em que comecei no futebol''. A saída do time da Mooca aconteceu 98, com o fim de seu contrato.
O meia passou, então, a rodar pelo Brasil. Entre 2001 e 2002, jogou no Náutico, quando foi treinado por Muricy Ramalho. Foi bem e chegou à Rússia. Ao voltar da experiência traumática, passou por Avaí e Ceará, times pelo qual disputou duas Copas do Brasil. ''Joguei com muita gente importante. O Muricy foi o técnico mais famoso com quem trabalhei, mas também fui treinado pelo José Carlos Serrão e pelo Vagner Benazzi. Entre os jogadores, peguei o fim da carreira do Fabinho, ponta do Corinthians, e do Jorginho (que acaba de ser demitido do cargo de técnico do Náutico). Com o Jorginho, joguei no Santo André, ao lado do Vágner, aquele goleiro do Botafogo, e com o Índio, do Corinthians, campeão mundial''.