Destaque da Ponte foi revelado em campo de terra atrás de cemitério em SP
Papo de Várzea
Você pode nunca ter ouvido falar do Noroeste da Vila Formosa e nem mesmo imaginar que, atrás do cemitério do bairro, três campos ainda são o centro nervoso do futebol amador da região. Mesmo assim, provavelmente conhece um jogador que foi criado naqueles campos de terra e pode, nesta quarta-feira, chegar à final da Copa Sul-Americana.
O atacante Rildo, da Ponte Preta, é a última das revelações tardias do futebol de várzea paulistano. E, como muitos antes dele, sofreu um bocado para chegar ao local em que está atualmente. Até os 19 anos ele ainda jogava na várzea. Para sua sorte, não era em qualquer time.
O Noroeste é dono de uma das torcidas mais fanáticas do futebol amador paulistano. Em jogos importantes, quatro mil pessoas podem descer da comunidade carente onde fica a sede do time para ver a bola rolando em um dos três campos vizinhos ao cemitério da Vila Formosa, um dos maiores da zona leste de São Paulo. No local ficam o Americano, o Flor e o União.
Quando era criança, Rildo era um desses torcedores. Quando o Noroeste jogava, ele estava na beira do alambrado, vibrando. Na adolescência, a história mudou. Unindo velocidade, força e habilidade no drible, ele logo se destacou nas escolinhas do clube. Não demorou muito e ele era um dos destaques do time. Jogou por lá até os 19 anos. Em 2008, ele estava jogando bem na Copa Kaiser, o principal torneio de futebol amador de São Paulo. Fez cinco gols na temporada e só não foi o artilheiro da equipe porque não atuava em todas as rodadas.
''Naquela época, eu estava fazendo muitos testes. Jogava uma partida, duas, e ia viajar'', lembra. Em um dos jogos, a sorte mudou. O empresário Pitico, que trabalha no futebol há 20 anos, resolveu dar uma olhada no jovem atacante. Foi até o campo do Nacional, na Comendador Souza, para observar Rildo. E gostou do que viu
''Depois do jogo, ele veio conversar comigo e logo nos acertamos. Fui primeiro para o Fernandópolis, depois para a Ferroviária. Ajudei no acesso à segunda divisão e então apareceu o Vitória'', conta Rildo. A revelação dos terrões logo conquistou a torcida e virou xodó. Mas um problema acabou marcando sua passagem.
Em 2011, poucos meses depois de chegar à Bahia, levou um cartão amarelo no duelo contra o Boa, pela Série B do Brasileirão. Revoltado, tentou chutar o árbitro da partida, Claudio Francisco Lima e Silva. Foi expulso e ainda levou um gancho do STJD: ficou três meses suspenso. Em sua volta ao futebol, o brilho em campo não diminuiu. Mas a fama o perseguia. Tanto que, em 2012, ele chegou a ser indicado pelo técnico Muricy Ramalho para o Santos. Mas a contratação foi descartada pelo histórico.
No meio do ano passado, porém, a Ponte resolveu apostar no brigão. Não foi um casamento que deu certo desde o início. Quando Guto Ferreira era o técnico, o atacante teve algumas chances, mas não chegou a se firmar como titular. Foi bem com Paulo Cesar Carpegiani, com quem já tinha trabalhado no Vitória. Mas foi com Jorginho – com quem ele, inclusive, discutiu em um treino – que ele conquistou a vaga no time titular.
No Brasileirão, a campanha ruim da Ponte não permitiu que o atacante se destacasse. Na Copa Sul-Americana, porém, o estilo driblador fez sucesso. Contra o Velez, na histórica vitória por 2 a 0 na Argentina, foi dele a jogada do primeiro gol. Contra o São Paulo, no Morumbi, ele começou o gol de empate na vitória por 3 a 1 (e infernizou a vida de Paulo Miranda, o responsável por sua marcação).
Por Bruno Doro