Futebol chegou ao Brasil, mesmo, com Charles Miller?
Papo de Várzea
Como o futebol chegou ao Brasil? Quem sabe um pouquinho sobre história vai logo lembrar de Charles Miller, que voltou da Inglaterra com uma bola de futebol debaixo do braço e se tornou o pai da modalidade por aqui.
A história, porém, pode não ser assim tão simpless… Historiador e escritor, José Moraes dos Santos Neto tem uma teoria diferente. Em 2002, ele publicou “Visão do Jogo: Primórdios do Futebol no Brasil” e, no livro, conta que o esporte chegou por aqui em 1882, nas escolas jesuítas do interior de São Paulo, em Itu e Jundiaí. O detalhe é que o jogo tinha um nome diferente, bolim bolão, e usava um paredão como rebatedor. Tudo bem, não é exatamente o 11 contra 11 que Miller apresentou quase 20 anos mais tarde, mas ainda assim envolve bola e chute, certo?
Além disso, o livro também fala da polêmica Rio x São Paulo quando o assunto é a chegada do futebol ao país. Para os cariocas, as primeiras peladas no país foram disputadas por lá, entre ingleses – um deles era Oscar Cox, nascido no Rio e fundador do Fluminense. Para os paulistas, os primeiros jogos foram organizados por Charles Miller. Quem está com a razão? Você pode ler o livro e tirar suas conclusões…
Mas essas não são as únicas curiosidades que o “Visão de Jogo” concentra. Segundo o livro, por exemplo, o clube de futebol mais antigo do Brasil é a Ponte Preta, de Campinas, fundada em 11 de agosto de 1900 – com isso, reforçando a ideia de que a bola no pé chegou primeiro nos colégios do interior paulista. Já o Vasco da Gama foi o primeiro clube brasileiro a aceitar negros em seu elenco.
Sobre o futebol de várzea, o livro conta a origem do nome e o início da tensão burguesia x proletariado que, até hoje, envolve as pessoas quando a bola começa a rolar. Primeiro, vamos ao nome: o termo várzea foi associado ao futebol amador por causa da Várzea do Carmo, em São Paulo. Com muitos campos montados, o local era o centro de encontro da elite paulistana para praticar o esporte.
Aos poucos, porém, os mais pobres, principalmente os operários, foram tomando gosto pelo esporte e a região passou a ser tratada como “imprópria” para os mais ricos. Foi assim que clubes como o São Paulo Athletic (clube que ainda existe e tem um importante time de rugby no cenário nacional, mas não tem ligação com o atual São Paulo Futebol Clube), Paulistano, Mackenzie e Germania (que mudou de nome na Segunda Guerra Mundial e hoje se chama Pinheiros) foram formando seus times de futebol, para reunir apenas pessoas da alta sociedade. Quem não tinha dinheiro para se juntar aos clubes tradicionais foram montando suas próprias agremiações. O Corinthians, por exemplo, foi fundado nessa época de separação.
Bom, para mais histórias, só lendo o livro. Você pode encontrá-lo em livrarias, sebos e nas bibliotecas (aqui você pode procurar o livro e ver em qual delas ele está disponível). Seguem os detalhes: “Visão do Jogo: Primórdios do Futebol no Brasil”, do autor José Moraes dos Santos Neto, publicado pela editora Cosac & Naify.
Por Marcelo S. Costa (e Bruno Doro)