Papo de Varzea

O craque que nunca foi

UOL Esporte

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Todo mundo tem um história de um craque que nunca chegou ao estrelato. Aquele talento raro que, por um motivo ou outro, perdeu-se na poeira das ruas. Essa aqui ouvi há algumas semanas e, creio, ilustra bem porque o futebol é tão apaixonante.

Bom, a história começa com o craque. Desde pequeno, ele se destacava nas peladas do bairro. Contra crianças de sua idade, não dava nem graça. Ele era tão bom que, com dez anos, já estava jogando com os garotos de 15. Aos 12, seus rivais eram adultos. Quando chegou aos 15 anos, não existia uma pessoa que o conhecesse que não dissesse que iria virar jogador.

Só que, sabe como é a vida… O pai do garoto arranjou emprego em outra cidade e lá foi ele, atrás do pai. Voltou aos 18 anos. Tinha terminado o colegial, voltou para a cidade onde cresceu e estava pronto: iria tentar realizar seu sonho. “Tio, vou ser jogador de futebol. Você acha que eu consigo teste em algum lugar?”

O tio tinha história no futebol amador, conhecia muita gente na cidade, mas não tinha contatos para tanto. Precisou de duas semanas, ligando, diariamente para os amigos, mas conseguiu. “Meu filho, segunda-feira, duas da tarde, você vai a uma peneira. Na Portuguesa”.

O garoto não ficou exatamente empolgado, mas apareceu. Jogou apenas 30 minutos. “Nossa, é craque. Sabe com quem ele parece, quando domina a bola e levanta a cabeça? Com o Ademir da Guia”, disse o técnico, empolgado. Tirou o garoto de campo e avisou: você está aprovado. Volte na semana que vem que iremos te inscrever.

Quando o tio chegou em casa, estava orgulhoso. A família, finalmente, teria um jogador de futebol. Mas o rosto do futuro profissional não estava exatamente brilhando. Quando a semana seguinte chegou, o diretor que tinha conseguido o teste ligou. “E ai, onde está o seu sobrinho? Ele não apareceu mais. Todo mundo ficou impressionado”. Ele não sabia o que responder. Foi perguntar para o garoto, que respondeu. “Tio, a Portuguesa é boa, mas não é o que eu quero. Você acha que consegue um teste no Corinthians?”

Como família é família, lá foi ele pegar o telefone e cobrar favores. Precisou de três semanas, mas o teste foi marcado. Feliz da vida, lá foi ele falar com o sobrinho: terça-feira, 9h da manhã, em um dos terrões do Parque São Jorge. “Pôxa, tio… Demorou, né. Consegui um emprego. Não vai dar”.

Quem lembra do garoto correndo com a bola até hoje lamenta a decisão…

Por Bruno Doro

Ps: OK, partes dessa história são reais. Outras, não. Quais? Só quem ouviu a história de outra fonte vai saber…