Papo de Varzea

Paulo Autuori não parece, mas é um verdadeiro varzeano
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UOL Esporte

Quando você ouve falar em Paulo Autuori, que imagem surge? Eu, pelo menos, achava que o treinador era um daqueles almofadinhas, técnico de elite que está bem longe do espírito do futebol que eu, você e os parceiros tanto gostamos. Pois é: eu estava errado.

Nesta sexta-feira, o site da Fifa publicou uma matéria com o técnico, hoje no Vasco. E ele provou que é um verdadeiro varzeano (sem usar nenhuma vez a palavra várzea…). Defendeu o futebol de rua, aquele em que todo mundo começa. Falou dos dribles ao meio-fio e de como as escolinhas falham ao criar jogadores com espírito brasileiro.

Olha só o que ele disse: “O grande problema do futebol brasileiro foi o fim do futebol de rua. Ele proporcionava desenvolver a habilidade. Tinha calçada, você tinha que levantar bola, aprender a dominar. Você usava a parede para fazer tabela. Outra coisa que desenvolvia: jogos de rivalidade com as outras ruas. E o espírito? Você jogava três, quatro peladas com o dedo arrebentado, desenvolvia espírito de sacrifício. Mais: um jogo era de 12, então você era obrigado a fazer gol”.

Logo depois, ele acabou completamente com a imagem de almofadinha que eu tinha: “Na pelada de rua, o papai não estava. Hoje, papai vai levar na escolinha. Enquanto o técnico fala uma coisa, ele diz outra. Nas academias, tem garoto de 6 a 12 anos fazendo preparação física. Garoto dessa idade não precisa disso, ele tem energia. Ele precisa é aprender o espírito do jogo, o que ele aprendia na rua”.

Eu concordo. É verdade que nos campeonatos de várzea, como os que o blog acompanha, não vemos exatamente esse futebol de rua. Mas vá aos campos e dê uma olhada em volta. A garotada que vai assistir sempre leva a sua bola. E arranja rivais para a pelada em qualquer lugar vazio. Várzea é isso. E, como o Autuori faz questão de lembrar, é algo que está sendo colocado de lado no Brasil.

Quer ver a reportagem inteira com o técnico do Vasco? Ela está aqui: Paulo Autuori, ainda lírico.


Voz do Terrão: Inspirado na novela Malhação, Malhadão estreia com derrota na Copa Kaiser
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UOL Esporte

A novela Malhação é a mais antiga em exibição na Globo, no ar desde 1995. No último domingo, foi a vez do futebol de várzea ganhar uma homenagem ao folhetim. O Malhadão, do Parque Doroteia, fez sua primeira partida na Série B da Copa Kaiser. Estranhou o nome? Segundo Edson Cofrinho, um dos fundadores e atualmente treinador do ABC, outra equipe amadora, é uma homenagem ao programa da Globo.

O nome surgiu depois de uma reunião entre os amigos Zeca e Galinha, em 1999. Como não chegavam a uma decisão sobre como iriam chamar o novo time, olharam para a TV. Malhação era o programa no ar naquela hora. Fizeram, então, uma adaptação. Virou Malhadão…

Em campo, a estreia não foi muito boa. O time, que está no Grupo S-6 da Segundona, enfrentou o Favela, da Vila Guacuri, e perdeu por 1 a 0. Rival mais experiente: participou no ano passado da série B, conseguiu se manter e vem, ao longo dos anos, conquistando seu espaço.

Para o Malhadão, a partida teve alguns componentes que prejudicaram o rendimento. A ansiedade e o peso da estreia era evidente na cara de jogadores, torcedores e dirigentes. A equipe jogou muito abaixo do esperado, errando muitos passes e arriscando poucos chutes. Também temos que exaltar o empenho da equipe do Favela, que marcou muito e não desistiu em nenhuma jogada.

O inicio da partida foi pegado, as duas equipes se respeitando. Com isso, as faltas eram constantes. O detalhe era o tamanho do campo: os dois rivais são da região da Pedreira, mas o duelo foi marcado para o Estrela da Saúde, no Jardim Aracati, na zona sul de São Paulo. O campo é maior do que os normalmente encontrados na várzea.

A primeira jogada de perigo foi da equipe do Favela. Logo no primeiro minuto, Du recebeu na lateral esquerda e tocou para Neguinho, que bateu da entrada da área. Ele pegou errado na bola, que subiu demais, passando longe do goleiro Jeferson, do Malhadão. Logo depois, escanteio para o Favela. Cafu bateu e a zaga do Malhadão ficou parada. Mancha subiu sozinho e cabeceou fraco. Jeferson fez a defesa tranquilo.

A equipe do Malhadão só foi ao ataque com perigo aos 10 minutos. Lelão bateu falta curta para Jean, que arriscou para fora. Aos 23min, Malhadão quase marcou. Lelão fez boa jogada no meio-campo e tocou para Nam. Ele deixou a bola escapar, dividiu com a zaga. Na sobra, Jean chutou forte e o goleiro Dida, do Favela, rebateu. A zaga deu um bico, afastando o perigo.

A resposta do Favela foi imediata. No ataque seguinte, Cafu cobrou escanteio e o goleiro Jeferson ficou indeciso na saída da bola. Neguinho subiu sozinho e testou firme. Jeferson se recuperou no lance e fez grande defesa, no reflexo.

No último ataque da primeira etapa, a equipe do Malhadão teve mais uma chance para abrir o placar. Jean fez boa jogada pela ponta direita e cruzou. Frances não alcançou e Felipinho, já dentro da área, chegou batendo de primeira, para fora. O primeiro tempo foi bem movimentado e com muita marcação. As duas defesas tiravam todas. O meio tocou muito de lado, sem arriscar os chutes.

A segunda etapa começou quente. Logo aos quatro minutos, Frances tocou para Lelão. Ele dominou e bateu. O goleiro Dida fez a defesa sem dificuldade. No contra-ataque rápido, o Favela quase abriu o placar. Em bate-rebate dentro da área, a bola sobrou para Cafu, que bateu forte. A bola cruzou toda a área e ninguém colocou para dentro.

Aos sete minutos, outra boa jogada do Favela. Cafu recebeu a bola no meio campo e, sem marcação, arriscou o chute. Foi no ângulo e o goleiro Jeferson, do Malhadão, foi buscar e fez a defesa. Na sequência, bola parada para o Malhadão, perto da linha de fundo. Eloy bateu e o goleiro Dida saiu socando, afastando o perigo do gol.

Aos 31 minutos, Cafu bateu escanteio curto para Ricardinho, que tocou para Ale chutar forte. Jeferson espalmou. O gol saiu nos minutos finais. Na cobrança de tiro de canto, Cafu, escolhido o craque da partida, colocou efeito na bola e fez um gol olímpico. O goleiro Jeferson foi sair e socou a bola para dentro do seu gol.

No último lance da partida, a equipe do Malhadão ainda tentou fazer o gol de empate. Lelão bateu falta dentro da área e a zaga afastou mal. No rebote, Felipinho dominou e bateu. A bola resvalou no travessão e foi para fora.

Com a vitoria, o Favela lidera o grupo S6. O outro jogo da chave, entre Cruzeiro/Jd. Gaivotas e Metalúrgico/Heliópolis, acabou 0 a 0. Agora, o Malhadão, na última colocação, tenta se reabilitar na próxima rodada contra o Cruzeiro. E o Favela defende a liderança contra o Metalúrgicos, em datas e locais a confirmar. Lembrando que, na Etapa 1, os dois primeiros colocados de cada grupo se classificam para a próxima fase. Os terceiros colocados se mantém na Copa Kaiser e quem terminar em quarto lugar volta para as seletivas.

O texto foi feito pelo parceiro do blog Eduardo Lima. Segurança, ele faz questão de correr pelos campos aos fins de semana atrás das melhores partidas.

Este é o “Voz do Terrão”. É o espaço que o Papo de Várzea oferece para que você conte a história do jogo que assistiu no fim de se semana. Você quer participar? Mande o relato pelo e-mail papodevarzea@gmail.com


Série B na várzea é pegada: União vence com um a menos
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O jogo entre Juventude/Brás e União/Parque Edu Chaves, no campo do Flamengo de Vila Maria, foi um exemplo de como a Segundona, mesmo na várzea, é diferente da elite. O jogo foi pegado, ninguém aliviou nas divididas. E o juizão só conseguiu controlar a partida ao expulsar um jogador do União aos cinco minutos de jogo. Mesmo com um a menos, o União venceu, 3 a 0. Veja a crônica de Carlão Carbone:

 

E, se você não viu, dê uma olhada nos outros gols da Copa Kaiser:


Duas versões para um empate: veja como dois rivais viveram a mesma partida
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No último domingo, o Noroeste, da Vila Formosa, e o Vila Reis, de São Miguel, empataram em 1 a 1. A torcida do primeiro saiu comemorando pelo gol do meia-atacante Fabinho, de falta, nos acréscimos. Quem estava apoiando o segundo saiu bravo, falando em roubo para o time “da casa” – já que o Noroeste considera o campo do Americano, local do duelo, sua “sede”.

O Papo de Várzea resolveu, então, ouvir uma pessoa de cada lado para saber como foi o jogo. E cabe a você imaginar como foi a partida.

Noroeste: “Com muita torcida, às
vezes o jogo não flui. Mas empatamos”
Vila Reis: “Juiz deu quatro minutos
de acréscimo. Gol saiu no sétimo”

Nos dez primeiros minutos do jogo, o Vila Reis pressionou. Ele tiveram duas chances de gol. Não foram chances muito claras, mas eles conseguiram finalizar na direção do gol. Depois dos 15 minutos, nosso time se encontrou e só deu Noroeste. Acertamos bola na trave. O goleiro pegou uma cara a cara. Quase marcamos em uma cabeçada. Pressionamos no primeiro tempo, mas não conseguimos abrir o placar.

No segundo, o time foi para cima, mas quem marcou foram eles. Foi um erro do nosso goleiro. Ele tentou sair socando, mas a bola foi para trás. Sobrou para ataque, livre. Em seguida, começamos a ir para cima de novo. O gol saiu em uma falta do Fabinho. Ele bateu de longe, no canto, a bola quicou na frente do goleiro antes de entrar.

Foi um bom jogo. Conversei com alguns jogadores do Vila Reis, que admitiram que eles jogaram na retranca. Um deles disse que não dava para jogar de igual para igual com o Noroeste. Tomariam dois ou três. No fim das contas, foi um jogo atípico. Quando você jogar em casa, com muita torcida, às vezes você tenta tanto que nada dá muito certo. Mas empatamos. Nas próximas partidas, o nosso time vai crescer.

O jogo foi emocionante para os dois lados. Nós começamos com a marcação muito forte no meio de campo, para anular a maior força do Noroeste. Com isso, conseguimos dominar a partida no início. Começamos apertando e saímos três vezes na cara do gol. Infelizmente, nosso jogador acabou virando.

O placar na virada do segundo tempo estava empatado em 0 a 0. Eu estava confiante que podíamos vencer e coloquei mais um atacante em campo. Deu certo. Em um ataque, abrimos 1 a 0 e conseguimos segurar o Noroeste. Nos minutos finais, o juiz anunciou os acréscimos. Falou que ia dar quatro minutos. Mas já passavam mais de sete minutos do tempo regulamentar quando saiu a falta que deu origem ao gol de empate. Eles marcaram, acabou o jogo.

Vamos agora para o segundo jogo e ver o que acontece. Por ser dentro da casa do adversário e pelas circunstâncias da partida, foi um bom resultado. Agora, podemos sair da casa do adversário e jogar em campo neutro. Vai ser mais fácil.

Lincoln Carvalho, diretor do NoroesteValtenis Santos, o Val, técnico do Vila Reis

E ai, parecem a mesma partida? Quem chegou mais perto do que realmente aconteceu?


Rodada da Copa Kaiser tem encontro de torcidas, cinco times 100% e um “pitbull”
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O domingo foi bom para os favoritos na Copa Kaiser. Todos os times que chegaram com 100% de aproveitamento à rodada, venceram seus jogos. Com isso, o número de participantes com campanha perfeita no torneio até agora aumentou para cinco. Além do Leões da Geolândia, da Vila Medeiros, já somam quatro vitórias Ajax/Vila Rica, Internacional/Moinho Velho, Praça/Pirituba e Jardim São Carlos/Guaianases. Confira os destaques do jogos do dia: Rodada da Copa Kaiser tem encontro de torcidas, cinco times 100% e um ''pitbull''


Existe receita para formar um time campeão na várzea?
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Desde que comecei a cobrir o futebol amador pelo UOL, uma pergunta nunca foi realmente respondida. Como se monta um time vencedor? Cada pessoa tem uma teoria. Tem gente que vai para o lado da raça. Outro vai atrás dos mais experientes. Tem técnico que tem seus jogadores de confiança e os carrega sempre que troca de time.

O melhor resumo dessa história, porém, quem deu foi o goleiro reserva do Nove de Julho, Fernando (que foi um dos personagens do post de sábado, sobre o amor dos jogadores pela várzea): “Time forte não é aquele com as maiores estrelas. Mas aquele que se encontrou no meio da competição. Na Copa Kaiser o campeão nunca entra em campo com o mesmo time que mandou para o campo em sua estreia. Você precisa de um ou dois meses para avaliar a equipe, conhecer o nível físico e perceber quem está melhor naquele momento. Por isso, a Etapa 1 não vale nada. É a partir da segunda fase que o torneio começa de verdade”.

Acompanhei a campanha do Ajax, da Vila Rica, no ano passado, e vejo que essa visão da formação da equipe faz muito sentido. Mas vamos tentar explicar um pouco melhor o que ele está querendo dizer. No ano passado, o Ajax tinha recrutado o volante Gilmar Fubá, campeão mundial pelo Corinthians. Nas primeiras rodadas, ele era o dono do meio campo. Todas as bolas passavam por ele. Mas o time não encantava. Cheguei a ouvir comentários como “Não sei porque dão tanta atenção para ele. Bom mesmo é o XXXX”.

O nome de quem era melhor não importa. Torcedor é assim, cada um tem sua opinião. Mas eles estavam certos. Com Gilmar, o time era previsível – o jogador, brucutu entre os profissionais, se destacava na várzea, mas, exatamente por isso, era muito bem marcado. Na Etapa 2 (justamente a que começa neste domingo para o time da Vila Rica), o Lobão passou por dificuldades. Perdeu na estreia e, já sem Gilmar, as mudanças vieram. Time novo, alguns reforços e, ao fim do torneio, o título inédito.

Quer outro exemplo? Também no ano passado, o Adega, de AE Carvalho, montou um super-time. Trouxe uma série de destaques de outras equipes e um técnico de renome. Tinha até mesmo um atacante, Adauto, com experiência na Liga dos Campeões e campeão brasileiro, com o Atlético-PR. E foi eliminado precocemente.

Essas duas histórias mostram que, na várzea, é difícil prever como um time vai se sair. Sabe a química que os comentaristas tanto procuram nos times profissionais? Na várzea ela é ainda mais importante. Por duas razões principais: a origem do futebol amador é dos times de amigos, da galera da rua que se junta para desafiar bairros rivais. A mais importante, porém, é a falta de vínculo com a camisa que o atleta defende.

Hoje em dia, jogador troca de time com uma frequência muito alta. A cada ano, o técnico precisa olhar para seu elenco e descobrir quem são seus melhores jogadores, quem atua melhor em qual posição e que combinação é a mais adequada para o torneio. Além disso, existe a questão do entrosamento e o lado físico – não são atletas profissionais, nem todos tem o preparo físico necessário e o técnico só descobre isso colocando-os em campo.

 
No fim das contas, o time se encontra no meio da competição. Esse texto, aliás, não está aqui por acaso. Neste domingo, metade dos participantes da Copa Kaiser estreia na Etapa 2 da competição. Quem for a um dos campos, terá a chance de ver se o seu time já encontrou essa química. Se o grupo de atletas que começou a disputar no torneio já se tornou uma equipe.

Por Bruno Doro, repórter do UOL e responsável pelo Papo de Várzea