Cara e coragem: o resumo do Mundial de amputados pelo artilheiro do Brasil
Papo de Várzea
Rogério Almeida, o R9, foi o vice-artilheiro do Mundial de Amputados de Culiacán, no México, que terminou no último domingo. com sete gols. Foi assim que ele viu a competição: Perdemos alguns patrocinadores e só conseguimos confirmar a nossa viagem para o Mundial do México a menos de 45 dias do início da competição. Não tínhamos todo o apoio necessário, mas quem estava nos ajudando foi importante. Conseguimos chegar a Culiacán graças ao apoio de Deka Sports, APTO e Instituto Só Vida.
Quando chegamos, percebemos que tínhamos caído em uma chave muito forte, com Irlanda, Ucrânia e o atual campeão Uzequistão. Passamos pelos dois primeiros jogos ganhando de 2 a 0. Contra os campeões, fizemos um jogão, mas perdemos pelos nossos erros. A classificação para a segunda fase, porém, já estava garantida.
Nas oitavas de final, enfrentamos a Alemanha, que veio pela primeira vez para o Mundial de Amputados. O pré-jogo foi muito tenso. Nosso técnico não sabia como eles jogavam, mas a classificação mostrava que eles eram um time a ser olhado com cuidado. E, claro, existia o reflexo dos 7 a 1, da seleção profissional, na semifinal da Copa do Mundo. Todos lembraram desse jogo, pensando “E agora, e se a gente perde de novo da Alemanha?”.
Mas entramos em campo muito bem e, logo de cara, fizemos o primeiro gol. O segundo veio logo depoi e passamos a administrar o jogo. Terminamos ganhando de 5 a 0 o primeiro tempo. No segundo, continuamos jogando para frente. O resultado, 10 a 0, foi a maior goleada de toda a competição.
Fomos embalados para jogar contra a Rússia, nas quartas de final. Sabíamos das dificuldades que teríamos. A Rússia ainda não tinha perdido jogo nenhum e ainda vinha de goleada, 9 a 1 contra El Salvador, um time forte. Além disso, eles contavam com uma maior preparação física e o calor acabou ajudando. Estávamos bem no primeiro tempo. Cometemos apenas uma falha, mas que acabou resultado no gol russo.
Fomos para o intervalo perdendo por 1 a 0 e voltamos para o segundo tempo para empatar o jogo. Conseguimos pressionar, tivemos bola na trave e tudo. Mas a Rússia é um time frio. Em dois contra-ataques, definiu o jogo. Caímos para a seleção que seria, dias depois, campeã mundial.
No dia seguinte à derrota, fizemos um amistoso contra o Japão. Era a primeira vez que enfrentávamos os japoneses. O jogo foi uma festa. Vencemos por 3 a 2, mas valeu muito mais por vivenciar a alegria dos japoneses, que começaram a jogar há alguns anos, incentivados por um brasileiro, o primeiro a promover o futebol de amputados no país. Mundial é isso: uma oportunidade de conhecer e vivenciar outras culturas.
Não chegamos ao título, mas ninguém ficou abatido. Os quatro times que chegaram às semifinais (Rússia, Angola, Turquia e Polônia) contam com o apoio de seus comitês paraolímpicos. Nós não temos apoio nenhum, já que o futebol de amputados ainda luta para ser reconhecido pelo Comitê Paraolímpico Internacional.
O Brasil tem de melhorar muito para chegar com chances de vitória na próxima edição. Se não começarmos a mudar agora, ficará muito difícil volta a falar em título. Não basta ter talento. Isso nós temos. O que precisamos é de um mínimo de estrutura para ajudar equipes e, principalmente, atletas.
Rogério Almeida