Aos 25 anos, ainda dá para ter sucesso no futebol profissional? Ramires, campeão com Ajax, vai descobrir
UOL Esporte
Nos últimos dois anos, um mistério matutava na cabeça do pessoal do Papo de Várzea. Toda vez que passava por um jogo do Ajax, da Vila Rica, um jogador chamava atenção. Ramires tinha, na época, 24 anos e não se encaixava no perfil do varzeano.
Alto e rápido, tinha bom domínio de bola, passes precisos, parecia estar em todos os setores do campo, responsável por fazer o jogo rodar. O que mais altava aos olhos, porém, era seu histórico no futebol. Ou melhor: a falta dele.
Mesmo com um biótipo perfeito (baixinho bom de bola é fácil achar, mas um cara grande, canhoto e que joga o fino da bola é raro…), ele nunca tinha tido uma chance no futebol profissional. Até chegou a fazer parte dos times da base do São Paulo, mas nunca chegou a assinar um contrato. Quem o via em campo logo perguntava: o que esse garoto tem de errado para não estar no futebol profissional?
Em 2013, após Ramires conquistar o título da Copa Kaiser com o Ajax, dirigentes de um time da Segunda Divisão do Campeonato Paulista (que equivale, na verdade, ao quarto nível estadual) resolveram conferir. O pessoal do Taboão da Serra o viu jogando na Copa Kaiser e fez o convite para alguns testes.
Não era a mais convidativa das ofertas. Para quem não sabe, a “Bezinha” tem um limite de idade e cada clube só pode jogar com três atletas com mais de 20 anos. Ramires, aos 25 e sem nenhuma experiência profissional, teria de lutar por uma vaga com ex-profissionais rodados – para se ter uma ideia, um dos companheiros veteranos dele é o goleiro Sérgio, ex-Palmeiras, de 43 anos. Mesmo assim, foi aprovado.
Chegava, então, a hora de decidir se aceitava ou não o convite. Neste momento, você, leitor, pode pensar que era uma decisão fácil. “Vai lá, diz sim e tenta realizar o sonho”. Mas não é bem assim.
Imagine o caso. O garoto tem de sustentar a família. Tem uma oferta de um clube profissional, mas de divisões menores. O salário pode ser razoável, mas sempre existe a chance de atrasos (ou, pior, do calote puro e simples). Na várzea, o salário não é fixo, mas somando os bichos das três, quatro partidas por semana, no fim do mês o dinheiro pode ser razoável. Era o caso do meio-campista, que sobrevivia justamente dos bichos – que ganhava jogando, muitas vezes, por três, quatro times diferentes.
Resolveu tentar. “Eu já tinha desencanado de ser profissional. Mas apareceu a oportunidade e resolvi tentar mais uma vez. Vamos ver se dá certo”.
Se depender da torcida dos amigos, vai sim: “É uma porta que se abriu para ele e a gente só pode torcer para que dê certo. Ele é um meia canhoto, que marca e define bem. Um grande jogador. Se Deus quiser, vai dar certo”, torce o técnico do Ajax, Robson Melo.