Papo de Varzea

“Vacilamos quando não podíamos”, diz técnico do Ajax, eliminado com 80% de aproveitamento

UOL Esporte

Se você acompanha a Copa Kaiser, a essa altura já sabe que o Ajax, da Vila Rica, atual campeão, foi eliminado. Mas o que deu errado? Olhando para os números, é difícil encontrar culpados. Foram 12 jogos, com oito vitórias e quatro empates. O time acabou fora do torneio sem ter perdido nenhum jogo. O aproveitamento é próximo de 80%, números que dariam orgulho a qualquer pessoa.

O Papo de Várzea conversou com o técnico do time, Robson Melo, para avaliar a campanha. E a resposta foi sincera: “O grande problema foi que vacilamos três vezes seguidas. E justamente quando não podíamos errar. Empatamos três vezes na mesma fase. Se tivessem sido um empate em uma fase e dois empates na outra, mesmo com esses resultados seguidos, não teríamos sido eliminados”, lamenta.

Só para situar quem não acompanhou: a eliminação veio na Etapa 4, após empates contra 1º de Maio/Tatuapé (1×1), SDX/Cidade Tiradentes (1×1) e Coroado/Guaianases (0x0). Antes dessa série, a equipe vinha de oito vitórias em nove jogos. “O time estava jogando muito bem. Marcando muito, chegando rápido ao ataque, surpreendendo. Saímos sem perder um jogo. Com um aproveitamento que poucos vão ter na história da Kaiser. Foi uma infelicidade grande”.

 

Quem acompanha futebol sabe: em um torneio longo, é impossível passar todas as rodadas em alta. Olhe o Campeonato Brasileiro para ver isso. Fases boas e ruins se alternam e o time que consegue lidar melhor com essas variações é o que termina com o título. O formato de disputa da Copa Kaiser, porém, é muito mais cruel.

Com quase nove meses de duração, é um campeonato dividido em fases de três jogos cada. Quem quer ser campeão precisa estar sempre na ponta dos cascos. Some a isso o fato de envolver atletas amadores, que além do físico, ainda precisam se preocupar em como vão ganhar a vida e você tem um desafio enorme para motivar um grupo de atletas durante a competição.

No caso do Ajax, existia, ainda, um outro agravante: nenhum time da várzea era tão conhecido. O time, que conta com uma das torcidas mais fanáticas da cidade, entrava em campo sempre sob a lupa, com “olheiros” de todos os rivais buscando pontos fortes para anular e fracos para explorar. “Era nítido quando a gente entrava em campo. Todo mundo joga com mais vontade contra o Ajax. Isso já acontecia antes do título. Depois do título, isso aumentou”.

O comando do Ajax até tentou criar surpresas. Trouxe o meia Nenê, um dos destaques da Copa Kaiser no ano passado (foi finalista com a Turma do Baffô/Jardim Clímax) e renovou o banco – quase todos os atletas foram trocados. E manteve a base forte que tinha sido campeã. Incluindo, aí, a manutenção do nigeriano Daniel Eze, artilheiro do time com quatro gols, que no ano passado jogou pouco, com uma lesão no joelho. Mas nem mesmo isso evitou uma oscilação do time em um momento chave do torneio.

Como sempre acontece no futebol, as mudanças não demoraram. Na semana em que foi eliminado, o técnico Robson já confirmava que estava fora do time. “Meu ciclo no Ajax terminou. Foram dois anos aqui. No ano passado, fomos abençoados com o título. Nesse ano, outro time será abençoado. É bom para a várzea”.

Aos 35 anos, porém, ele tem muito futuro. Em 2012, ele era auxiliar-técnico de Ajax. O titular era Tukinha, ex-jogador, lenda do próprio Ajax. Tukinha era quem botava a cara, ficava na linha lateral, era o alvo da torcida. Robson era o homem dos bastidores, analisava os adversários taticamente e, para muitos, era o responsável pelo bom futebol do time. Virou técnico nesse ano. E segue invicto. No ano que vem, certamente estará em outra equipe, valorizado pela campanha.

No Ajax, a busca por um novo comandante está praticamente definida. Algumas pessoas contaram ao blog que o nome deve sair da Série B da própria Kaiser.