Papo de Varzea

Segunda é dia de futebol de várzea? Para pizzaiolos e feirantes, sim

UOL Esporte


O que você, leitor, faz entre 10h e 18h de uma segunda-feira? Trabalha? Estuda?

Saiba que, enquanto você começa a semana, um grupo de pessoas está reunido em um campo de várzea na zona leste de São Paulo jogando futebol. E trate de esquecer o preconceito. Esse post trata de trabalhadores quase heroicos, com rotinas duríssimas e horários ingratos.

Os personagens são pizzaiolos e feirantes que, a cada segunda-feira, disputam um torneio de futebol de várzea no campo do Americano, atrás do cemitério da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo. E o motivo da escolha tão incomum do dia das disputas é simples.

Quem trabalha em pizzarias em São Paulo encara uma rotina dura. São seis dias por semana, normalmente entrando às 16h, com fim do expediente só de madrugada. Quem encara as feiras-livres vive uma rotina quase oposta, começando a montar barracas de madrugada e deixando o batente só no fim da tarde. A segunda-feira é o único dia em que esses trabalhadores ganham folga.

Como todo mundo gosta de jogar futebol, era natural que alguém encontrasse um horário no campinho do bairro e reunisse os colegas de trabalho para um racha. “Trabalhando aos sábados e domingos, não tinha como jogar bola. Na segunda, a maioria dos amigos estava de folga e não tinha nada para fazer. Foi aí que um deles descobriu o campo e começamos a fazer alguns rachas”, conta o Jose Roberto Nunes Cardoso, pizzaiolo de 36.

Da pelada entre amigos para a criação de um campeonato, a evolução foi rápida. “Começamos como brincadeira, há dez anos. Eram 20 amigos jogando um rachão. Mas a coisa foi crescendo e o campeonato se organizou. Os times foram aparecendo, mais gente apareceu para jogar. Hoje, já temos 12 times participantes e o número só não é maior porque não temos mais horários”, conta o organizador Francisco Bezerra, o Dodô – que é também o dono do Planeta Futebol Clube, um dos maiores campeões da competição.

As partidas são de 35×35 e começam sempre às 10h. São disputados cinco jogos por dia e os vencedores levam premiação em dinheiro. Esse detalhe começou a atrair os “profissionais” da várzea, aumentando a diversidade de ocupações dos participantes. Mesmo assim, a maioria deles ainda é pizzaiolo ou feirante.

É o caso de José Roberto. Hoje ele é pizzaiolo, mas quando começou a jogar bola às segundas, era feirante. “Eu vim da Bahia com 18 anos. Até tentei fazer teste na Portuguesa, mas acharam que eu era velho demais para ficar na base. Acabei trabalhando na feira, em uma barraca de panelas. Depois disso, os amigos foram convidando e fui trabalhar com cozinha. Fui esfiheiro, forneio. E sou pizzaiolo há oito anos”.