Todo ano tem sido sagrado. No dia 1º de maio, é celebrado na cidade de Santos, litoral paulista, o Dia do Futebol de Várzea. É verdade. Lá, já virou data oficial, com lei municipal e tudo. Há três anos, sempre nesta data, eu desço a Imigrantes atrás de novas histórias. Na maioria das vezes, da galera mais veterana, de 40 anos pra cima. E neste último feriado, conheci o mais 'experiente' jogador que entrevistei na vida. E, é bom ressaltar: ele entrou em campo também.

José da Silva Filho tem 85 anos. ''E faço 86 em julho, muito bem vividos'', disse Zé, como é mais conhecido na várzea santista (ele é o de vermelho na foto). Ele jogou no enxuga grama – gíria do futebol dada aos times que jogam primeiro em um campo. O motivo é simples: como o sereno da madrugada deixa a grama úmida, a turma do primeiro jogo tira a água do campo, enxugando a grama literalmente.

Foi incrível ver seu Zé em campo. Eu estava assistindo atentamente ao amistoso entre o XI Santistas do Marapé contra o Juventude de Nova Cintra quando percebi que o segundo time estava com 12 em campo. ''Tem um a mais'', reclamou o treinador do Marapé. ''Deixa, pô! É o seu Zé que entrou em campo'', respondeu o treinador do Juventude. Foi quando descobri que aquele ponta esquerda que correu por 10 minutos era um homem de 85 anos de idade. Eu vou chegar lá!

Como ele consegue?

Na saída do campo, mesmo depois de o seu time, o Juventude, perder por 2 a 0, seu Zé estava sorridente, feliz. Fui falar com ele, claro, para saber como ele consegue tamanha disposição aos 85 anos. ''Não fumar e não beber bebidas alcoólicas. Só uma caipirinha 15 minutos antes do almoço para abrir o apetite. Uma gemada dia sim, dia não''.

Anotou aí? Ah é, e jogar descalço. Para esses jogadores que procuram a melhor chuteira, a melhor marca, a melhor cor, seu Zé (e todos os jogadores veteranos em Santos) ensinam: bom mesmo é jogar com o pé livre. Quero ver encarar!

Por Diego Viñas, na coluna Futebol de Várzea, do Metrô News