Papo de Varzea

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Quem são os recordistas da várzea?
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Papo de Várzea

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Quem acompanhou a Copa São Paulo na semana passada conheceu uma figura daquelas que o Papo de Várzea adora. O maqueiro Ary (ou “Baurutelli”, por causa do moicano), que trabalhou nos jogos em Bauru, virou xodó do Globo Esporte e, em uma das reportagens, afirmou com todas as letras: “Marquei 1345 gols na carreira. E o milésimo foi de pênalti, como o Pelé. Baurutelli e Pelé é tudo igual”.

Fanfarrão ou não, a entrevista deixou aquela semente: quem são os recordistas do futebol de várzea? Quem, como Pelé (e Ary), já superou os mil gols? Para responder isso, porém, nós precisamos da ajuda dos leitores. Conhece uma história com números surpreendentes? Então mande para o nosso e-mail: papodevarzea@gmail.com

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O primeiro recordista que vamos apresentar é o Luiz Antônio, o goleiro dos 70 times. No fim do ano passado, ele entrou mandou um e-mail contando um pouco de sua história. Segundo ele, sua carreira “daria um livro”. E provavelmente é verdade…

Veja só a mensagem:

Sou da zona leste, bicampeão varzeano em 1979 e 1981 e fui escolhido para a seleção da várzea várias vezes, quando existia o programa Moacir Arruda, na rádio Cometa. Também fui citado em seleções na coluna “Dipo na Várzea”, do repórter Bentinho no Diário Popular, e na Gazeta Esportiva.

Minha trajetória no futebol amador é longa e daria para escrever um livro. Comecei a jogar aos 15 anos e só parei aos 56. Joguei em times de todas as zonas de São Paulo, alguns do interior. Também fui federado no futebol de salão por 12 anos.

Conquistei títulos em vários clubes. Fui campeão com o Noroeste da Vila Formosa, com o Ajax da Vila Rica, com o Flor de Vila Formosa, com o São Jorge de Vila Antonieta. Neste último, fiquei mais de 90 jogos invicto.

Também fiz parte de grandes times da várzea. O Boca Jr. da Bela Vista, por exemplo, era uma verdadeira seleção, incluindo jogadores profissionais. Já no time de veteranos do Corinthiansm joguei com Waguinho, Adãozinho, Geraldão, Zé Maria…

Nesse período, guardo boas lembranças de amigos que fiz nos campos, como o Cla Carbone (com quem joguei no Flor), o Bio, o Pistolinha, o Nicolau, entre muitos outros. No Noroeste, por exemplo, fiz grandes amigos, como o Pedrinho, o Paulinho presidente…

Foram muitas jogadas, muitos amigos e histórias alegres para contar.

Obrigado,

Luiz Antonio Iervolino, o goleiro

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Legal, não? Assim que vi o e-mail, perguntei se ele teria foto dos 70 times que defendeu. Ele prometeu procurar. Não tinha. “Realmente, é impossível reunir fotos de todos os times. Mas consegui reunir algumas. O que vale são os momentos, as jogadas e as lembranças dos amigos. Craques ou não. Vivi nos gramados por muito tempo. Quanta gente boa esteve ao meu lado…”

É exatamente esse o espírito. Para o Luiz Antônio, já aviso: vou entrar em contato para ouvir algumas histórias. Para os leitores, pode aguardar: vamos buscar mais personagens como o Luiz.

Por Bruno Doro

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Futebol chegou ao Brasil, mesmo, com Charles Miller?
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Papo de Várzea

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Como o futebol chegou ao Brasil? Quem sabe um pouquinho sobre história vai logo lembrar de Charles Miller, que voltou da Inglaterra com uma bola de futebol debaixo do braço e se tornou o pai da modalidade por aqui.

A história, porém, pode não ser assim tão simpless… Historiador e escritor, José Moraes dos Santos Neto tem uma teoria diferente. Em 2002, ele publicou “Visão do Jogo: Primórdios do Futebol no Brasil” e, no livro, conta que o esporte chegou por aqui em 1882, nas escolas jesuítas do interior de São Paulo, em Itu e Jundiaí. O detalhe é que o jogo tinha um nome diferente, bolim bolão, e usava um paredão como rebatedor. Tudo bem, não é exatamente o 11 contra 11 que Miller apresentou quase 20 anos mais tarde, mas ainda assim envolve bola e chute, certo?

Além disso, o livro também fala da polêmica Rio x São Paulo quando o assunto é a chegada do futebol ao país. Para os cariocas, as primeiras peladas no país foram disputadas por lá, entre ingleses – um deles era Oscar Cox, nascido no Rio e fundador do Fluminense. Para os paulistas, os primeiros jogos foram organizados por Charles Miller. Quem está com a razão? Você pode ler o livro e tirar suas conclusões…

Mas essas não são as únicas curiosidades que o “Visão de Jogo” concentra. Segundo o livro, por exemplo, o clube de futebol mais antigo do Brasil é a Ponte Preta, de Campinas, fundada em 11 de agosto de 1900 – com isso, reforçando a ideia de que a bola no pé chegou primeiro nos colégios do interior paulista. Já o Vasco da Gama foi o primeiro clube brasileiro a aceitar negros em seu elenco.

Sobre o futebol de várzea, o livro conta a origem do nome e o início da tensão burguesia x proletariado que, até hoje, envolve as pessoas quando a bola começa a rolar. Primeiro, vamos ao nome: o termo várzea foi associado ao futebol amador por causa da Várzea do Carmo, em São Paulo. Com muitos campos montados, o local era o centro de encontro da elite paulistana para praticar o esporte.

Aos poucos, porém, os mais pobres, principalmente os operários, foram tomando gosto pelo esporte e a região passou a ser tratada como “imprópria” para os mais ricos. Foi assim que clubes como o São Paulo Athletic (clube que ainda existe e tem um importante time de rugby no cenário nacional, mas não tem ligação com o atual São Paulo Futebol Clube), Paulistano, Mackenzie e Germania (que mudou de nome na Segunda Guerra Mundial e hoje se chama Pinheiros) foram formando seus times de futebol, para reunir apenas pessoas da alta sociedade. Quem não tinha dinheiro para se juntar aos clubes tradicionais foram montando suas próprias agremiações. O Corinthians, por exemplo, foi fundado nessa época de separação.

Bom, para mais histórias, só lendo o livro. Você pode encontrá-lo em livrarias, sebos e nas bibliotecas (aqui você pode procurar o livro e ver em qual delas ele está disponível). Seguem os detalhes: “Visão do Jogo: Primórdios do Futebol no Brasil”, do autor José Moraes dos Santos Neto, publicado pela editora Cosac & Naify.

Por Marcelo S. Costa (e Bruno Doro)


Ano de Copa. Vamos falar de Barbosa, o goleiro de 1950
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Feliz ano novo, parceiro varzeano! Depois de duas semanas de descanso, em que o insuperável Carlão Carbone garantiu as nossas atualizações, vamos aos poucos voltando ao ritmo normal.

E, já que é ano de Copa do Mundo, vamos começar falando de 1950. Não é novidade que na primeira Copa do Mundo disputada por aqui teve um grande vilão. Quando o chute de Ghiggia entrou no canto esquerdo do gol da seleção brasileira, o goleiro daquela equipe iniciou um calvário. Considerado o culpado pela derrota, Barbosa ouviu acusações até morrer.

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É justamente sobre esse personagem que um dos grandes amigos que fiz no jornalismo, Bruno Freitas, resolveu escrever. Queimando as Traves de 50: glórias e castigo de Barbosa, maior goleiro da era romântica do futebol brasileiro, da Editora iVentura, é um daqueles livros que você lê de uma vez, curioso para saber o que reserva o próximo capítulo.

Mas, se você está pensando que essa é uma simples resenha do livro, engana-se. Toda essa introdução foi feita para contar uma história de Barbosa que envolve o assunto principal do nosso blog: o futebol de várzea. Você sabia que Barbosa, assim como Gylmar dos Santos Neves, começou na várzea jogando como atacante?

Essa história é contada em um dos capítulos do livro, “Antes do gol, vida de artilheiro”. Nele, Bruno Freitas conta os primeiros passos do então adolescente Barbosa no futebol. No ataque. Rápido e dono de um chute potente, ele era destaque por onde passava. Jogava na ponta direita, sempre marcando muitos gols.

A mudança para o gol aconteceu quase por acaso. Em 1938, ele era destaque do Almirante Tamandaré e foi disputar uma partida na Vila Maria. O goleiro do time, porém, faltou. Foi então que Barbosa ouviu a frase que mudaria sua vida: pode ir para o gol, “só dessa vez?” Ele aceitou. Acabou sendo o destaque da partida. Mesmo com apenas 1,77m, altura apenas mediana para a posição, ele aproveitou a agilidade e explosão muscular para a fechar as traves.

A partir daí, passou a jogar como goleiro também no time do Laboratório Paulista de Biologia, pelo qual foi tricampeão da Associação Comercial de Esportes Atléticos. Seu desempenho pelas equipes de várzea era tão bom que ele foi convocado para a seleção paulista de amadores. Disputou um torneio no Rio de Janeiro e levou a equipe de São Paulo até a final. Perdeu por 2 a 0 para a seleção do Rio, mas seu nome já estava sendo observado pelos times profissionais.

Em 1942, ele foi contratado pelo Ypiranga, começando uma carreira brilhante, infelizmente marcada pela final do Mundial, oito anos depois. Ficou curioso? Procure o livro. Vale, mesmo, a pena ler a história do goleiro. De quebra, ainda podemos ter um aperitivo do que pode representar uma Copa em seu próprio país.

Bruno Doro


Um dia na vida de um time de várzea
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Papo de Várzea

Amigos varzeanos, bom ano para todos!

Em velocidade de cruzeiro para aproveitar as férias, vou compartilhar com vocês um texto que o Gabriel Luccas mandou para o blog. Seria publicado em uma revista que nunca saiu do projeto. Mas é um relato interessante.

Um abraço!

Bruno Doro

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Leões em festa

À beira do campo da Sociedade Vila Sabrina quem dá o cartão de visitas é um torcedor aleatório. O copo de cerveja nas mãos e a feição de quem já havia tomado uns goles a mais aparentemente não o credenciam como uma fonte confiável. Mas a frase sim. “Esse time está invicto na competição. Até agora foram seis jogos e seis vitórias. Eu moro no Jabaquara, mas faço questão de acompanhar os jogos do Leões”.

Como não há arquibancadas, os torcedores ficam atrás do alambrado. O embate entre Leões da Geolândia e Ouro Negro, válido pela terceira fase da Copa Kaiser, conta com aproximadamente 100 pessoas. Desmembrando por ordem de interesse, a bateria, ininterrupta, fica por conta de 15 aficionados; a alegria do ambiente é compartilhada por outros 80 – entre parentes, amigos, torcedores e desavisados. Os cinco restantes não querem saber de bola. Estão compenetrados em uma emocionante partida de dominó.

Tudo parece interessante. Mas é de dentro do campo que realmente se sente o clima do futebol varzeano.

O artilheiro

Em meio aos truculentos atletas de defesa do adversário, o camisa 7 do Leões chama a atenção. Tininha, de 26 anos, é a principal opção de gols da equipe. O físico franzino parece desabilitá-lo ao sucesso, mas o número de gols marcados na competição (é o principal artilheiro do time) revela o cuidado a ser tomado com ele.

Contra a equipe do Ouro Negro pouco encostou na bola, mas marcou os dois gols da partida. O primeiro surgiu da trombada entre zagueiro e goleiro adversários. Com a meta vazia apenas empurrou para as redes. No segundo, na etapa final, recebeu a bola na entrada da área e chutou forte, à meia altura, e saiu para a comemoração.

Jogador de várzea está ‘preso’ ao time que joga ou pode torcer para um clube profissional? “Pode, sim. O meu é o Corinthians. Aqui (no time do Leões) visto o verde e branco, mas levo o preto e branco no coração!”. Quem vê a firmeza de Tininha ao falar do time de Parque São Jorge logo imagina que o atleta tem como ídolos Romário, Robinho, ou Ronaldinho. Ledo engano. “Não me inspiro em ninguém. Meu estilo é um só: jogo a bola na frente e ninguém me alcança na corrida”. A receita é simples, dífícil é pará-lo.

O Massagista 

Quem assistir às partidas do Leões da Geolândia certamente vai dividir a atenção entre o campo e o banco de reservas. Rivalizando com o bom futebol da equipe, Cícero Lopes da Silva – o “Ligeirinho”, se você preferir – é um dos que mais se desgasta durante os jogos.

Para saber a origem do apelido não é preciso muito. Ele corre para atender um atleta lesionado com a mesma volúpia de um atacante à procura do gol. Mas se o lance estiver parado dentro de campo, para ele nada muda. Está em constante movimentação – para orientar os jogadores, manter-se aquecido ou disfarçar o nervosismo.

Oficialmente é massagista e preparador físico do time, mas pode ser facilmente confundido com técnico, torcedor, psicólogo… “Faço tudo por amor. Aqui é uma grande família”. A arma secreta de Ligeirinho está no banco de reservas. Mas não veste chuteiras. De lá os jogadores não voltam do intervalo sem chupar uma laranja. Por quê? “Alimenta e o time não fica pesado. Laranja é o que não falta pra eles. Os adversários não usam isso e cansam mais rápido”.

Aos 57 anos, Ligeirinho diz não idealizar o futuro. Mas um sonho ele tem. “Queria ter um curso completo de preparador físico. Se não desse, um estágio com um profissional da área me realizaria”. Ele mesmo parece não acreditar na concretização do desejo. Pouco importa. O sorriso no rosto do pernambucano denuncia que ali está uma pessoa inteiramente feliz.

‘Estrangeiros’ 

Apesar de se tratar de futebol amador, o segredo para o sucesso na categoria é o “profissionalismo”, mesmo quando não há espaço para praticá-lo. Viver como jogador amador é um luxo. Treinar também. Com espaço de 15 dias entre as partidas, cada atleta exerce outra atividade profissional – fora do esporte. Por isso, não há ensaios. O time se junta às pressas e vai para o jogo.

Da equipe titular do Leões da Geolândia, sequer um nasceu na própria Vila Medeiros – a começar pelo treinador Nilton, nascido em Pirituba e dono de uma padaria na Vila Sabrina “O pessoal que joga aqui vem de fora. Eu e outros diretores observamos bons jogadores na várzea e tentamos trazer pra cá. Essa moçada recebe por partida”.

Para ajudar na estratégia de convencimento, há o forte apoio dos patrocinadores. “Só com estrutura conseguimos fazer uma equipe vencedora”. Com estrutura e com ‘ajuda profissional’. “Temos o apoio de muitos atletas. Os que mais ajudam são o Vagner Love (atacante da seleção brasileira), que inclusive já jogou aqui para nós, e o Nadson (ex-Corinthians)”. Exemplo desta ajuda chegará via Coréia, país em que joga Nadson. “Ele vai nos mandar uniformes novos, no valor de 6 mil reais. Pode até divulgar o valor”.

Divulgado.

Por Gabriel Luccas


Presente de Natal
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Hoje é Natal! Sim, eu costumo dizer que é hoje, porque é no dia 24 mesmo que vem a ansiedade, é quando dá meia noite de hoje que a gente troca os presentes. Além disso, o feriado mesmo, amanhã, fica um dia morno, reservado só pro almoço em família. Mas e o presente? Já comprou o seu? Que presente você pediu ou vai dar para a pessoa querida? E para a várzea, que presente você daria para o futebol de várzea no seu bairro? Pense aí!

Semana passada, um vídeo começou a rodar no YouTube com uma galera da Zona Sul que deixou os seus desejos para o Papai Noel. Miguel “Carioquinha”, do CDC Bola Preta, pediu paz na várzea. Já Júlio Carlos, presidente do Arco FC do Jardim Consórcio, lembrou do cuidado com os campos. “Eu acho que os diretores desses belos campos podiam dividir melhor o tempo para outros times da região usufruírem do espaço”, disse Julião, como é conhecido.

Já o repórter Lucas Ribeiro foi mais saudoso. “Eu acho que podia acabar o capitalismo no futebol e a várzea ser mais como antigamente. Seria o melhor presente que podia acontecer”.

Por fim, Ari, um dos diretores do CDC Parque Fongaro Vila Arapuá, resume seu pedido de Natal para quem ama os terrões. “Acho que a várzea deveria voltar a ser mais várzea”. Ah é, o vídeo chama “Futebol de Várzea – Presente de Natal”. Assista e um feliz Natal.

 

 

Varzeanos ajudam Paraisópolis

Aconteceu o último encontro dos Amigos da Várzea do ano, que reúne diretores e adeptos dos principais times amadores de São Paulo. Na décima edição, as pessoas doaram alimentos e roupas, totalizando ao menos 100 quilos em itens que serão doados para a comunidade de Paraisópolis, zona sul. A equipe do Palmeirinha, dos parceiros Bruno e Chiquinho, será a responsável por receber a doação e repassar para a comunidade. O 10º Amigos da Várzea aconteceu no Centro de Treinamento KFC, em Itaquera, na Zona Leste.

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Varzeanos Solidários

Por Diego Viñas


De rejeitado a ídolo, goleiro Gylmar foi atacante na várzea
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Ainda hoje, muitos jogadores profissionais admitem que sua formação aconteceu nos campinhos de terra. Não é preciso pensar muito para lembrar de Leandro Damião, Elias ou David Luiz, que nasceram no futebol de várzea e hoje brilham no futebol do Brasil e no mundo.

Antigamente, quando as escolinhas de futebol não existiam, a várzea era o celeiro de craques mais conhecido pelos grandes clubes. Na década de 1950, o Jabaquara contratou, quase que sem querer, um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro: Gylmar dos Santos Neves.

No início, Gylmar atuava pelo Vila Hayden, time amador da cidade de Santos, onde o futuro ídolo nasceu. Mas se pensa que o eterno camisa 1 começou embaixo das traves, engana-se. Usando o chute forte como uma de suas habilidades, Gylmar era atacante, atuando pela ponta esquerda. Teimoso, insistia atuar no campo ofensivo, mesmo com tantos amigos dizendo que ele era muito melhor como goleiro.

A estreia de Gylmar no Jabaquara, porém, foi desastrosa. O arqueiro titular do time santista, o grande Mauro (que tinha o apelido de “Fortaleza Voadora”),  se machucou e era a chance de vida de Gylmar contra o poderoso São Paulo, em pleno estádio do Pacaembu. Placar final, 5 a 1 para o Tricolor. Sim, um dos maiores goleiros que o Brasil já teve estreou no profissional deixando cinco bolas passar.

Foram seis meses para ser contratado pelo Corinthians. Mas não pelo talento. O time da capital queria mesmo era contratar o meia Ciciá. O time santista, no entanto, só aceitou negociar com uma condição: que levassem embora o “frangueiro” Gylmar. Deu no que deu.

Nascido na várzea e rejeitado na sua primeira chance nos gramados. Nada mal para quem se tornou bicampeão mundial pela Seleção Brasileira (1958 e 1962), conquistou diversos campeonatos paulistas por Corinthians (atuou de 1951 a 1961) e Santos (atuou de 1962 a 1969) e ainda levantou uma série de troféus nacionais. Além, claro, das inesquecíveis conquistas da Libertadores e do Mundial (1962 e 1963) ao lado de Pelé & Cia. no eterno elenco da Vila Belmiro.

Gylmar dos Santos Neves deixou os campos da vida em 25 de agosto de 2013, aos 83 anos, em consequência de complicações causadas por um AVC.

Por Diego Viñas


Varzeano quase foi para o Goiás. Patrão não deixou
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Estive neste domingo no 41º Encontro Preto x Branco, na Vila Arapuá, na zona sul de São Paulo. Com aquela nata da boleiragem reunida, foi difícil contar um história só, mas escolhi dividir a de Gemel, um senhor com mais de sete décadas de vida. Ele chegou de mansinho, trouxe um quadro enorme, com uma foto de um time pousado e começou a explicar. “Essa é uma forte seleção da várzea antiga. Eu sou aquele em pé, o segundo da esquerda para direita”.

Na foto, Gemel tinha 44 anos. “Foi meu último jogo na várzea. Foi no campo do Copa Rio”. Hoje história, era um terrão de Heliópolis. Bem antes disso, porém, Gemel quase conseguiu ser profissional. “Eu era um bom central. Era forte, porque fiz luta livre, e os atacantes me respeitavam muito. Com 22 anos, tive a chance de ir para o Goiás”.

Um amigo, o Ditinho, que jogava no time do Centro-Oeste, levou o presidente goiano à casa de Gemel para a proposta. “Pedi para meu patrão me dar férias do meu trabalho. Eram férias vencidas, mas ele não me deu”. Gemel não podia pedir as contas. “Eu tinha duas filhas já e não podia arriscar. Então, acabei ficando no trabalho mesmo”, lamenta.

O Goiás, porém, ficou marcado. “Sempre fui mecânico de manutenção e jogador. Acabei perdendo o sonho de jogar no profissional. Fiquei muito triste. Até hoje torço pelo Goiás. Sou palmeirense, mas sempre torci pelo Goiás depois daquilo”.

Escalando o time dos sonhos

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Gemel contou a história dos jogadores da foto ai em cima. Alguns atuavam pelo profissional do Guarani (de Campinas) e outros se destacaram no Flor de São João Clímaco, no Floresta e na Portuguesa do Sacomã, como o nosso personagem. Da esquerda para a direita temos, em pé, Jura, Gemel (aos 44 anos, que se diz fã do futebol de Luis Pereira, ex-zagueiro do Palmeiras), Fábio, Beto e Lelo (volante dos bons); agachados estão Zé Lauro (figura épica de São João Clímaco), Dengo, Bigola, Oscarzinho (atacante craque) e Loiro.


Quando a pelada de fim de ano era no Carandiru
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Está vendo a foto aí em cima? Sim, é o Neto, em 1991, quando ainda era meia do Corinthians. Ele está dentro do Carandiru, a penitenciária mais famosa do país. Até 2002, quando o “cadeião” foi demolido, era comum ver equipes fazendo amistosos lá dentro, contra a seleção dos detentos.

No passado, até mesmo jogadores profissionais aceitavam a aventura. Eram as peladas de fim de ano de raiz. Daquelas que lembravam o espírito inicial do futebol de várzea, um time contra o outro, pressão da torcida e a alegria de ver a bola rolando.

“Joguei no Carandiru com o Milionários. Era uma equipe de várzea organizada por ex-jogadores. Eu fui atendendo a um convite do Zé Maria e do César Maluco. Fui só uma vez e não cobrei nada”, explica Neto.

O ambiente poderia parecer hostil. O rival era a seleção dos detentos. A torcida ficava não apenas na beira do campo, mas nas grades das celas. “O cenário era assustador. Mas com o tempo, conversando, você vê que os caras são gente como a gente. Não tinha violência naquele momento. Era respeito. Foi no auge de Corinthians. A maioria ali me adorava”, lembra.

Copa Kaiser 2013

Copa Kaiser 2013

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O temor surgia quando era hora de sair: “No fim do jogo, começou a juntar aquela galera. Fiquei com medo. Pensei naquelas rebeliões, essas coisas que via na TV”. Nada aconteceu. E o placar? “Ganhamos da seleção dos detentos por 2 a 0. Fiz os dois gols de falta”.

E não eram só os jogos no Carandiru que marcavam as diferenças entre as partidas de fim de ano atuais com as do passado. “Hoje em dia é uma coisa chique. Às vezes é até transmitido pela TV. Na minha época era mais simples. Pelo interior, coisa de caipira, mesmo. Na maioria das vezes, tinha caráter social, para ajudar entidades carentes, crianças doentes, essas coisas”.

Uma coisa, porém, não muda: a chance de se encontrar com os parceiros. “O legal é que dá pra levar os amigos. Nessas situações que você vê realmente quem é amigo de quem”, completa Neto.

E você, varzeano, já jogou no Carandiru? Conte a sua história!

Por Bruno Doro 

(A foto lá em cima, que deu a ideia do texto, foi postada no Facebook por um parceiro aqui do blog. Depois, descobri que ela está em uma matéria no site da Band – assinada por João Prata. Se você quiser ler essa matéria, é só clicar aqui)