Quando a pelada de fim de ano era no Carandiru
Papo de Várzea
Está vendo a foto aí em cima? Sim, é o Neto, em 1991, quando ainda era meia do Corinthians. Ele está dentro do Carandiru, a penitenciária mais famosa do país. Até 2002, quando o “cadeião” foi demolido, era comum ver equipes fazendo amistosos lá dentro, contra a seleção dos detentos.
No passado, até mesmo jogadores profissionais aceitavam a aventura. Eram as peladas de fim de ano de raiz. Daquelas que lembravam o espírito inicial do futebol de várzea, um time contra o outro, pressão da torcida e a alegria de ver a bola rolando.
“Joguei no Carandiru com o Milionários. Era uma equipe de várzea organizada por ex-jogadores. Eu fui atendendo a um convite do Zé Maria e do César Maluco. Fui só uma vez e não cobrei nada”, explica Neto.
O ambiente poderia parecer hostil. O rival era a seleção dos detentos. A torcida ficava não apenas na beira do campo, mas nas grades das celas. “O cenário era assustador. Mas com o tempo, conversando, você vê que os caras são gente como a gente. Não tinha violência naquele momento. Era respeito. Foi no auge de Corinthians. A maioria ali me adorava”, lembra.
O temor surgia quando era hora de sair: “No fim do jogo, começou a juntar aquela galera. Fiquei com medo. Pensei naquelas rebeliões, essas coisas que via na TV”. Nada aconteceu. E o placar? “Ganhamos da seleção dos detentos por 2 a 0. Fiz os dois gols de falta”.
E não eram só os jogos no Carandiru que marcavam as diferenças entre as partidas de fim de ano atuais com as do passado. “Hoje em dia é uma coisa chique. Às vezes é até transmitido pela TV. Na minha época era mais simples. Pelo interior, coisa de caipira, mesmo. Na maioria das vezes, tinha caráter social, para ajudar entidades carentes, crianças doentes, essas coisas”.
Uma coisa, porém, não muda: a chance de se encontrar com os parceiros. “O legal é que dá pra levar os amigos. Nessas situações que você vê realmente quem é amigo de quem”, completa Neto.
E você, varzeano, já jogou no Carandiru? Conte a sua história!
Por Bruno Doro
(A foto lá em cima, que deu a ideia do texto, foi postada no Facebook por um parceiro aqui do blog. Depois, descobri que ela está em uma matéria no site da Band – assinada por João Prata. Se você quiser ler essa matéria, é só clicar aqui)