Várzea FC: véi, na boa: assiste aí!
Papo de Várzea
Tinha tudo para ser mais uma série sobre futebol, dessas tão comuns em época de Copa do Mundo. Mas o canal a cabo History e a OSS Produções devem surpreender com o Várzea FC. A série terá oito capítulos e estreia no dia 20 de maio, às 23h. Estive no lançamento do projeto, na última terça à noite, dia 6, no auditório do Museu do Futebol, no Pacaembu.
O canal, que tem a tradição de fazer programas históricos de cunho ''geocientífico'', investe em produções diferentes, nacionais e que com certeza vão dar o que falar. Principalmente para aquele telespectador mais chato, que prefere saber o que acontece com o crocodilo cego na ilha de Madagascar (tem crocodilo lá?) a descobrir como é a vida de quem está mais próximo dele do que ele mesmo imagina.
Moradores do bairro assistem à pré-estreia
Por isso, para você que quer dar uma de ''cool'' e diz que não vai assistir à série Várzea FC, digo que é porque você nunca pisou num campo de várzea. Mais: tampouco imagina as ricas histórias que existem por lá. Por isso, infelizmente você não viu – porque ficou em casa comendo Danoninho – uma das cenas mais emblemáticas da noite, no lançamento, antes de o vídeo começar.
Um ônibus pequeno estacionou à Praça Charles Miller e, de dentro, cerca de 40 pessoas do bairro do Jaguaré chegaram para acompanhar (e conhecer melhor) a história de quatro personagens do Clube Atlético Jaguaré Unidos, o CAJU. Imagine só! A movimentação de um bairro longe do centro (o Jaguaré) em direção a uma das regiões mais elitizadas da cidade (o Pacaembu) para ver futebol de várzea. Isso, sim, é transformação.
''Achei que eles eram da polícia''
Os quatro personagens do CAJU falaram sobre a experiência inédita em suas vidas. Para o protagonista, Amauri, tudo parecia ser passageiro. ''Eu não botei fé quando eles nos procuraram pela primeira vez. Depois que eles voltaram, começaram a nos entrevistar, aí percebi a dimensão que tudo aquilo estava tomando''.
Paraíba, apesar de extrovertido, revelou que teve dificuldades de encarar as câmeras. ''Eu tenho medo até de tirar foto 3×4, imagine das câmeras'', brinca. Já Funeca desconfiou da chegada dos produtores do History. ''Quando eles chegaram, pensei que eram da polícia. Fiquei desconfiado''.
Para Viola, não se trata apenas de um bairro ou um time, mas de todos os times do Brasil. ''Não conta a história do meu bairro ou do meu time. Conta a história do futebol em todo o Brasil. É uma experiência nova e o terreno é propício''.
Sobre a série
Quatro personagens dão a base da história ao longo de oito capítulos. Amauri, o protagonista, é apaixonado pelo time do CAJU, gosta de cuidar do campo e trabalha como taxista para ganhar a vida. João Funeca é um funileiro gente boa e muito tímido. Zagueiro do time, ele conta que na hora de entrar em campo ele se transforma. ''Se minha mãe entrar em campo, eu sento o sapato nela também, se precisar'', brinca.
Paraíba joga no meio de campo e é o que mais arruma confusão. É o típico folgado da turma. E o quarto personagem é Viola, que adora um rabo de saia e faz o maior sucesso como artilheiro do CAJU.
O primeiro episódio é uma apresentação dos personagens e fala sobre as dificuldades que um time sofre com pouca estrutura e grana escassa. Com uma linguagem que tem a cara do History, promovendo diálogos e criando cenas ao longo da produção, o Várzea FC é divertido, humorado e, o principal, sincero. É fiel à realidade da periferia, mas, ao invés de explorar as mazelas do bairro, prefere investir nas relações humanas, em questões sociológicas que dão um tom diferenciado e atrativo. Vale a pena.
Por Diego Viñas, do Varzeapédia