Papo de Varzea

Arquivo : agosto 2013

Irmãos, sim! Futebol. . . à parte!
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UOL Esporte

O texto a seguir foi enviado ao blog pelo Waldir Capucci. Ele leu a história dos irmãos Rosa (Máquina niveladora, irmão marrento, caçula “traíra”: no Dia dos Pais, histórias de uma família de varzeanos) e se lembrou da história de seus tios, craques em Jacareí. A leitura vale a pena:

Irmãos, sim!  Futebol. . . à parte!

Não presenciei, mas ouvi muitos relatos de personagens e testemunhas e, também, li vários recortes de jornais da época atestando a veracidade dos fatos.

Na primeira metade do século XX, mais precisamente na década de quarenta, havia uma grande rivalidade entre duas equipes de futebol de Jacareí.

Quem não era torcedor do Esporte Clube Elvira, o famoso vermelhinho, certamente torcia pela Ponte Preta Futebol Clube, a esquadra alvinegra, já que não havia como ficar neutro; todos tinham uma preferência clubística.

As únicas e conhecidas exceções veremos mais adiante.

Quando as equipes se enfrentavam, a cidade toda acabava envolvida. Não existia outro assunto nas conversas ao longo da semana que antecedia o clássico municipal. No dia, então, o estádio ficava lotado e os torcedores incentivavam os jogadores desde antes do apito inicial, sem esmorecer.

Encerrado o jogo, a semana seguinte era consumida pelos comentários sobre a porfia futebolística, e heróis e vilões eram obrigados a conviver com as opiniões dos torcedores até um novo confronto.

Cada time tinha seus ídolos, aqueles que davam ao torcedor a confiança e segurança de que a equipe não seria derrotada. No Elvira, as atenções recaíam principalmente sobre o centroavante Raul, corpo esguio, driblador, muito rápido e exímio goleador. Já do lado da Ponte Preta, a idolatria maior era por Horácio, goleiro de boa estatura, excelente reflexo, narigudo em razão da descendência libanesa, preciso nos saltos e sempre fazendo defesas milagrosas que levavam os torcedores de sua agremiação ao delírio, e os da adversária, ao pânico.

A cidade parava a cada confronto, as paixões afloravam e discussões e apostas surgiam nas esquinas. Exceção apenas na casa dos imigrantes José e Irineia, pais de Raul e Horácio, que, junto com os demais sete filhos, torciam pelos gols do lépido centroavante e pelas defesas do intrépido arqueiro.

Sim, o artilheiro e o goleiro adversários no campo eram irmãos e, ainda solteiros, moravam sob o mesmo teto. Juntos, trabalhavam no armazém da família, ajudando o pai, que nunca permitiu que a rivalidade futebolística se estendesse ao lar, e, independente do resultado, a harmonia sempre fez parte da rotina daquela casa.

Fotos antigas registram a presença no estádio do pai, José Ale, trajando um sobretudo escuro, vistoso chapéu na cabeça e portando uma bengala, que girava ameaçadoramente para quem ousasse dirigir críticas ou palavrões para uma de suas crias em campo. Tinha como retaguarda a presença ao seu lado de outros três filhos, muito fortes e prontos a defender o pai e a honra da família em qualquer situação.

Já a mãe e suas quatro filhas ficavam limitadas a ouvir pelo rádio, já que não havia televisão na época. E, juntas, sofriam do mesmo modo. Quando do retorno dos homens ao lar, estes já encontravam o jantar pronto para as prazerosas noites em família, na qual era proibido falar do jogo.

Com o decorrer dos anos, muitos foram os embates entre as agremiações e não sei qual teve mais vitórias sobre o outro. Raul faleceu em 1982, com 57 anos, e Horácio, em 1996, com 69 anos. Ambos se vangloriavam de ter vencido mais vezes e, enquanto um enaltecia seus gols, o outro se gabava de suas defesas. Por amor a ambos, jamais pesquisei para saber a verdade, preferindo acatar o empate como resultado.

Ficaram as histórias, as boas recordações, os amigos. E também um acervo de troféus e o legado de vitórias e títulos para as agremiações que defenderam com aquela galhardia amadora de outrora, inexistente nos dias atuais.

E eu, muito privilegiado, tive nos animados encontros familiares a oportunidade de conviver com os dois craques, meus tios por parte materna, ouvindo deles deliciosas narrações e fatos pitorescos daquela época.

Registros que mantenho guardados no acervo pessoal do meu coração, onde sempre os rebusco através do pensamento, e inebriado pelas deliciosas lembranças, dou-me o direito de rir ou chorar, manifestações causadas pela emoção de recordações familiares tão marcantes na minha vida.

Gostou do texto? Tem uma história parecida? Mande para o nosso blog! O e-mail é esse: papodevarzea@gmail.com


Agenda do fim de semana: futebol para todos os gostos
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A Copa Kaiser volta neste fim de semana, após a pausa do Dia dos Pais. Mas nem só do torneio mais importante da várzea paulistana vivem os amantes do futebol amador. Tem jogo em todos os cantos da cidade (mas ninguém convidou os amigos do Papo de Várzea para uma festa, como o aniversário do Dha Q Brada, no sábado passado, na Rosas de Ouro).

Confira onde estão os melhores jogos dos próximos dias:

Copa Kaiser e os primeiros classificados

Neste domingo, a Série A da Copa Kaiser terá a segunda rodada da Etapa 5 e os primeiros times classificados para as oitavas de final serão conhecidos. São 20 times lutando por 12 vagas e uma série de jogos que prometem ser emocionantes.

Com jogos sempre às 13h (com uma excessão), as torcidas estão se preparando. O pessoal do Família 100 Valor, uma das surpresas dessa edição da Kaiser, por exemplo, chama a torcida para, às 11h30, começar o esquenta da bateria. Outros times, como o Noroeste e o MEC-Maranhão, já avisam que terão ônibus grátis para a torcida, saindo de suas sedes ou campos duas horas antes do apito inicial. Confira os jogos:

Zona Norte

Leões da Geolândia x Inajar de Souza, no Flamengo da Vila Maria

Jardim Peri – Gesan x Vasco/Vila Galvão, no Benfica da Vila Maria

Zona Sul

Pioneer x Bafômetro, no estádio do Nacional, da Barra Funda, às 11h30

Turma do Baffô x Milianos, no Anhanguera

Zona Leste

Nápoli x Jardim São Carlos, no estádio do Nacional, na Barra Funda

Madrid x MEC-Maranhão, no Flor da Vila Formosa

Coroado x Noroeste, no campo do Americano

1º De Maio/Tatuapé x SDX, no Burgo Paulista

Zona Oeste

Vila Izabel x Família 100 Valor, no Caju

Danúbio x Catumbi, no Agostinho Vieira

Você pode ver o endereço dos campos aqui.

 

Copa Parque Orlando Vilas Boas (com direito a clássico Valencia x Barcelona)

Essa é uma sugestão que chegou pelo e-mail do Papo de Várzea (papodevarzea@gmail.com – se você tiver sugestões, pode mandar!) e, por isso, entra na íntegra:

Em mais uma iniciativa para fortalecer o futebol amador da região oeste de São Paulo, a Liga Lapa de Futebol Amador, junto ao Parque Orlando Villas Boas e equipes participantes fundadas na região, realizam a I Copa Parque Orlando Villas Boas.

São 16 equipe divididas em quatro grupos. Na primeira fase, cada equipe fará três jogos dentro de seu grupo. Os dois melhores se classificam para a fase final (quartas de final, semifinal e final), disputada em em jogo único – com empate levando o jogo para as penalidades. Ao todo, serão 32 jogos, divididos entre as tardes de sábado e as manhãs e tardes de domingo.

A competição começa no próximo domingo (18/08), com equipes de tradição, como Botafogo da Vila Leopoldina, que em 2014 completará 60 anos, e o Valencia EFB, vice-campeão da II Copa Pelezão.

Confira a tabela da 1ª rodada, no domingo (sempre no Parque Orlando Villlas Boas, na Av. Embaixador Macedo Soares, 8.000):

9h – Valencia x Barcelona

10h30 – Nacional x Humaitá

12h – Pantera x Bagaceira

13h30 – Leões da Lapa x Águia de Ouro

 

Super-Copa Vila Izabel 2013

Neste sábado, começa o torneio do Vila Izabel (o mesmo que está jogando a Copa Kaiser). Os jogos são no Ninho da Coruja, o campo da equipe, em Osasco (Av. Eucalipto, 0 – Vila Militar – Osasco). Veja a tabela:

Sábado (17/8)
14h: Bola Branca x Império Negro
15h: Três Corações x Nacadência
16h30: Nove de Julho/Casa Verde x Juventus da Liberdade

Domingo (18/8)
14h30: Clube Atlético Perus x Imigrantes

Copa Palmeirinha B

Mais um torneio em Paraisópolis, agora é a vez da Copa Palmeirinha B. No domingo, será disputada a final, no campo do próprio Palmeirinha. Às 13h30, Paraisópolis e Serrano decidem o terceiro lugar. Às 15h será realizada a grande final, com o duelo entre Reinetes e VKN.

 

Festival de aniversário do R2 Debony

O sábado é de festa na zona sul, com o aniversário de seis anos do R2 Debony, no campo do Anhanguera, com a realização de quatro partidas:

12h30: Veteranos do R2 Debony x Veteranos da Nenê da Vila Matilde

14h30: R2 Debony x Armação/Parque São Lucas

15h30: Anhanguera x Black Power/Ipiranga

16h30: Nova Geração x Piraporinha


Jogador infiltrado – Superstições: tem craque que coloca grama na cueca para dar sorte
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Preste atenção quando os jogadores entram em campo. Em qualquer partida. Alguns deles se abaixam, tocam o chão e fazem o sinal da cruz. Outros pulam com uma perna só para garantir que estão entrando em campo com a perna direita. Superstição demais? Que nada… Já vi coisas realmente estranhas nos campos desse Brasil.

Se você olhar bem para o pé dos jogadores, verá que chuteira nova, mas nova mesmo, é quase uma exclusividade dos novatos do time. Sabe o motivo? É uma tradição no futebol: quando o veterano chega com chuteira nova, dá para o moleque amaciar. Ele usa três, quatro vezes e devolve. Não chega a ser uma superstição pesada, mas é batata: o garoto fica com a bolha, o tiozão, com a chuteira macia

E quando você entra no vestiário, então? Existe todo um código de conduta. Na várzea, o lugar em que você se troca é acanhadinho, mas a ordem em que você coloca a mochila é sempre a mesma, tentando sempre se trocar ao lado dos mesmos parceiros. Se você vai de ônibus (e olha que tem muito time que freta um busão nos jogos mais importantes, para garantir que todo mundo chegue ao campo no clima), os lugares são marcados. Coitado do truta que senta no lugar errado… É obrigado a levantar rapidinho, levando tapa de tudo quanto é lado.

Outra coisa comum é usar uma peça de roupa igual em todos os jogos. Tem gente que usa a mesma meia até furar. O pior é quando a superstição está na cueca. Varzeano que é varzeano, joga sexta, sábado e domingo. No mínimo. Imagina a situação da cueca quando termina a última partida?

Tinha até cara que comia grama e terra. O motivo? “Foi o que o professor mandou fazer”. Menos folclórico, mas tão chocante quanto, era o ritual de um zagueiro que jogou comigo há alguns anos. Um dia antes de jogo importante, ele comia tijolo. Isso mesmo: tijolo! Ele quebrava um bloco daqueles vermelhões e mandava ver. Não sei se ele colocava na comida, estilo queijo ralado, ou comia com água, como se fosse groselha. Mas dizia que ajudava a se manter firme em campo. E, com sinceridade, era um dos melhores zagueiros com quem já joguei! Se a moda pega, hein…

Outra história eu vi quando ainda era moleque e estava nas divisões de base de um time grande. O cara entrava no campo antes dos jogos, pegava um pouco de grama e jogava dentro dos dois meiões e da cueca. Falava que dava sorte. Esse tinha um dos chutes mais fortes que já vi na vida. Ninguém nunca mediu, mas era a nossa versão do Roberto Carlos. O problema era o efeito da grama na cueca. Ele conseguia jogar bem por uns 20 minutos. Depois, ficava se caçando. Quando o juiz apitava, vinha reclamar que sempre acabava assado!  Mas jogava muito!

Quando o UOL Esporte mergulhou no futebol de várzea, viu que as pessoas eram atenciosas, mas evitavam alguns assuntos. Quanto os jogadores ganham? Como é a relação jogador/treinador? Torcida tem poder? Para responder a tudo isso, o Papo de Várzea encontrou um espião. Ele é um veterano do futebol amador que aceitou contar  os segredos do futebol amador. A cada mês, um tema novo!

Veja o que já foi publicado:

Varzeano também aproveita a sobra das marias-chuteiras do profissional

Várzea e apelidos. Não tem essa de politicamente correto

Torcida faz festa, mas pode expulsar jogador antes de chegar ao vestiário

 


Artilheiro do amor: jogador desiste de contrato milionário por não poder namorar
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UOL Esporte

Já resgatamos uma matéria nesta semana. Com o precedente aberto, então, vamos a mais uma: esta é mais nova, desse ano, mas vale a pena rever (principalmente agora que o Carlão começou a ficar famoso: apareceu em matéria na Band!)

A história é engraçada e Carlão segue jogando muito. Na última rodada, foi eleito o melhor do jogo na vitória do 1º de Maio sobre o MEC-Maranhão, pela Copa Kaiser.

Após jejum sexual no Omã, atacante arruma namorada e vira artilheiro na várzea

Para se buscar objetivos profissionais e pessoais, muitas vezes é necessário abrir mão de grandes prazeres. Que o diga o atacante Carlão, destaque do 1º de Maio, do Tatuapé, na Copa Kaiser. De olho em um bom contrato no Al Seeb, de Omã, há dois anos, ele deixou o Villa Rubia, da terceira divisão espanhola, e foi se aventurar no rígido país da Península Arábica. Dentro de campo, o brasileiro fez gols e teve um bom desempenho. Mas o problema era fora das quatro linhas. Por ser estrangeiro, ele teve de viver um forçado jejum sexual de oito meses.

“Era impossível conseguir uma mulher para namorar, por causa da cultura religiosa dos muçulmanos. Se você não é árabe, não pode mexer com as mulheres de lá. Eu fiquei na vontade durante os oito meses que joguei lá. Isso acabou fazendo com que eu fosse embora. Eu gosto é de bola na rede”, disse Carlão. “O bom é que na Árabia, eu ganhei um bom dinheiro. Todos os times são de algum xeque. Eu ganhava premiação se fizesse gol e fiz bastante”, acrescentou ele.

Depois de conseguir fazer um pé de meia, Carlão, que antes havia passado por Itapirense, Oeste, Flamengo de Guarulhos e Taquaritinga, decidiu voltar para o Brasil. Cheio de desejo, reencontrou Priscila, a quem já conhecia há anos. O amor os envolveu, a abstinência sexual chegou ao fim e, pouco depois, nasceu Cauã, filho do casal. Paralelamente, o goleador buscava um time para jogar, pois o dinheiro ganho na Árabia estava indo embora com tantas despesas. Era a hora de tentar a sorte no Vietnã, no An Giang, da cidade de Long Xuyên. Mas, desta vez, com mulher.

“Me levaram para conhecer a estrutura do An Giang. Logo de cara, eu não gostei, porque eles me deram carne de cachorro para comer. E, no restaurante, começaram a passar ratos perto da mesa. Não gostei da cidade, mas fiquei um mês treinando e queriam assinar comigo. Mas não aceitei ficar”, comentou Carlão.

De volta do Vietnã, o veloz atacante acabou indo parar na várzea paulistana. Conhecidos o indicaram para o 1º de Maio, do Tatuapé. Na sua primeira temporada pelo time, em 2012, Carlão marcou três gols em três partidas. Mas a equipe sofreu em uma chave complicada, com os fortes SDX, da Cidade Tiradentes, e Nova Sapopemba, e foi eliminada já na primeira fase.

Neste ano, o time está brilhando. Já está na quinta fase, com grandes chances de classificação para as oitavas de final (afinal, venceu em sua estreia na Etapa 5).

Vivendo um belo momento, Carlão está feliz na várzea. Entretanto, ele espera que a visibilidade que está conquistando na Copa Kaiser possa o ajudar a despertar o interesse de um time profissional. “Eu estou com 27 anos e tenho até experiência internacional. Espero que vejam meu futebol. Vamos ver se aparece uma nova oportunidade”, disse o atleta.

 


Voz do Terrão: Tropicália, do Itaim Paulista, chega aos 22 anos buscando integração de garotos ao esporte
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Bom dia amigos do Papo de Várzea,
Sou presidente da Sociedade Esportiva Tropicália, fundada em 20 de outubro de 1991. Sou fã do blog e sempre vivi na várzea. Joguei durante 20 anos, sempre com muito amor ao esporte. Hoje em dia, como presidente, busco a inserção da molecada no futebol. Somos de um bairro pobre da Periferia, o Itaim Paulista, onde há poucas opções para a molecada. O futebol acaba sendo uma excelente oportunidade de lazer e saúde. Conseguimos, com esse trabalho, tirar alguns jovens do mundo das drogas.

Somos membros do CDC Jardim Noêmia, um dos melhores campos da zona leste. O local passou por uma grande reforma entre 2011 e 2012. Hoje, o CDC possui um campo com gramado sintético, iluminação, uma quadra poliesportiva coberta, além de vestiários de primeira qualidade.

Agradeço o espaço e, desde já, em nome do Tropicália, convidamos os amigos do Papo de Várzea para comparecer à Festa de Aniversário do nosso humilde time, marcada para 20 de outubro de  2013, a partir de 10h30, no CDC Jardim Noêmia, no Itaim Paulista.

São 22 anos de história na várzea, e se não temos grandes títulos para comemorar, temos um grande orgulho de ter formado homens.

Alexandre Garcia é presidente do Tropicália

Este é o “Voz do Terrão”. É o espaço que o Papo de Várzea oferece para que você conte a história do jogo que assistiu no fim de se semana. Você quer participar? Mande o relato pelo e-mail papodevarzea@gmail.com


Em Heliópolis, 190 mil pessoas e mais de 40 times dividem um só campo de futebol
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Na semana passada, recebi uma ligação que me deixou muito contente. O Fábio José da Silva, líder comunitário de Heliópolis, estava comemorando uma conquista grande do esporte naquela que já foi a maior favela da América Latina. Em dois meses, a escolinha de futebol que criou já está atendendo quase 200 crianças na quadra da Unas.

Lembrei, então, de uma das reportagens que o UOL Esporte fez no ano passado, em Heliópolis. Em uma tarde, vivemos um pouco a realidade de Heliópolis para constatar a importância do futebol na vida de quem vive por lá. Leia. Vale a pena:

Em Heliópolis, 190 mil pessoas e mais de 40 times dividem um só campo

Quem nunca andou pelas ruas da comunidade de Heliópolis se surpreende com a importância que o futebol exerce na comunidade. As ruas estreitas abrigam, a cada esquina, um time de futebol diferente. Os nomes vão desde homenagens a novelas, como o Cantareira, até a turma de amigos que se reuniam para tomar umas e outras, como o Bafômetro.

São mais de 40 equipes estruturadas dentro da comunidade, com sede própria e estatuto. Mas, apesar do tamanho de Heliópolis, na área da maior favela de São Paulo só existe um campo de futebol para atender às necessidades esportivas de mais de 190 mil moradores.

“Campo mesmo, só temos um. Temos algumas quadras, mas todas pequenas. O campo original era na área onde hoje ergueram o hospital. Fizemos um acordo para construir no terreno, mas até agora não temos oficializado que esse local é da comunidade. Por isso, consideramos o campo como área invadida”, explica Edson Arthur da Silva, diretor do Cantareira.

O terreno fica ao lado do Complexo Hospitalar de Heliópolis. É administrado pela Associação Heliópolis Social e Lazer, entidade que une alguns dos principais times da comunidade. A infraestrutura é doada pelo hospital: uma torneira para os atletas e ligações de eletricidade improvisadas nas salas de administração e zeladoria.

“O problema do campo é só um reflexo dos problemas gerais de Heliópolis. Hoje, nossa principal reivindicação é justamente a regularização fundiária. Você pode ter uma casa, mas não tem os papéis. Então, oficialmente, é uma invasão. Hoje, temos agências dos Correios, bancos, consórcios. Mas os terrenos e as casas ainda precisam de regulamentação”, fala Fabio José da Silva, líder comunitário e parte da diretoria do Festpan, um dos times da comunidade.

Apesar da estrutura precária, o campo de futebol invadido exerce duas funções primordiais: o lazer para as crianças e a união entre rivais históricos (e, consequentemente, dos moradores). “As crianças da comunidade não tem muitas opções de lazer. Hoje, temos um trabalho que atinge quase 1000 garotos. Eles estão aprendendo futebol em um momento em que poderiam estar na rua. Estão livres de influências que poderiam ser negativas. Além disso, o futebol é um espaço de união. Esse campo tem dois anos e ajudou muito a unir as pessoas. Antes, a rivalidade era enorme. Hoje, estamos juntos na administração desse espaço. É a prova de que dentro de campo, você luta pela vitória. Mas fora, pode estar junto com seu adversário, se divertindo e tomando uma cerveja como amigo”, explica Luciano Cirino, o Léo, da equipe do Bafômetro.

A rivalidade a que Léo se refere teve um episódio marcante há cerca de dois anos. Cantareira e Bafômetro são os dois times de maior sucesso na Copa Kaiser, o principal torneio do futebol amador de São Paulo – em 2012, o Cantareira ficou entre os dez melhores do torneio e, em 2013, o Bafômetro tem chance de igualar o feito. Atualmente, nove times de Heliópolis disputam o campeonato. A dupla teve a companhia, neste ano, de Festpan e Ressaca na Série A e de Metalúrgico, São Francisco, Galo de Ouro, Garotos da União e Paraíba na Série B. O Ratatá, uma das equipes mais conhecida da região, disputava o torneio, mas está suspenso por motivos disciplinares.

Nesse cenário, no programa “A Liga”, da Bandeirantes, ainda em 2011, Edson chamou o Bafômetro de “inimigos”. “Foi uma das maiores besteiras que fiz. Chamei os caras de inimigos e depois tive que consertar. No fim das contas, acabou sendo bom. Foi a oportunidade de sentar, aparar as arestas e garantir que a rivalidade ficasse só no campo. O futebol é um caminho muito bom para agregar as pessoas, para atrair incentivos para ajudar a comunidade. Hoje, o futebol de Heliópolis está fazendo isso”, fala Edson.

E o campo é uma das maiores provas de como o futebol está trabalhando ao lado das lideranças comunitárias para trazer benfeitorias para Heliópolis. Em 2012, aos fins de semana, foi realizada a Copa Heliópolis, com os 12 principais times da favela. E, graças à união entre as equipes, uma empresa de telefonia patrocinou o campeonato.

Os times, porém, não usam o terrão só para seus jogos. O Social, por exemplo, tinha, em 2012, um projeto para as crianças (parecido com aquele de Fábio, mas no lugar da quadra da Unas, o campo da comunidade). “Temos cerca de 50 alunos na nossa escolinha, com crianças de 7 a 16 anos. Nosso objetivo é trazer essa molecada para o esporte, tirar da rua. As crianças veem as camisas do time, perguntam. É uma forma de criar uma identidade dentro da comunidade”, afirma o diretor do Social, Natanael Costa, o Pistolinha.

Nesse cenário, não é de se espantar que boa parte das lideranças comunitárias estejam ligadas ao futebol. Edson, do Cantareira, por exemplo, era diretor da Biblioteca comunitária de Heliópolis, da Unas, parte do projeto “Identidade Cultural de Heliópolis”, que conta com o auxílio de Ruy Othake. O arquiteto, entre outras ações, desenhou os prédios redondos que fazem parte do plano de reurbanização da favela e os edifícios do Polo Cultural, que reúne cinema, teatro e oferece aulas esportivas e culturais para crianças. “Aos poucos, as pessoas estão percebendo a força que Heliópolis tem. E o futebol faz parte dessa força. Os times só recebem da comunidade. E estão percebendo que também podem fazer muito. No Cantareira, por exemplo, vamos fazer uma partida para arrecadar livros para a biblioteca. São ações simples, mas que ajudam. O futebol pode ajudar”, diz Edson.

Também do Cantareira, Emerson Santana, o Macarrão, trabalha no Conselho Tutelar, também é líder comunitário e resume o papel do futebol em Heliópolis. “É o local onde você se encontra com seus amigos. Onde as crianças ainda têm sonhos, ainda sonham em virar estrelas do futebol. Traz um elemento de autoestima que ajuda muito a quem mora aqui”.

Magrão: Craque de Heliópolis

O volante Magrão, revelado pelo São Caetano e com passagens por Palmeiras, Corinthians e Internacional, é um dos craques de Heliópolis. Ele deixou a comunidade pelo futebol profissional e até hoje, quando volta ao país, passa por Heliópolis para rever os amigos dos tempos de infância. Hoje no Al-Whada, o volante se identifica muito com o futebol de várzea da comunidade onde cresceu e se identifica com o Ratata, time que já jogou a Copa Kaiser, mas hoje está suspenso por problemas disciplinares.


“Vacilamos quando não podíamos”, diz técnico do Ajax, eliminado com 80% de aproveitamento
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Se você acompanha a Copa Kaiser, a essa altura já sabe que o Ajax, da Vila Rica, atual campeão, foi eliminado. Mas o que deu errado? Olhando para os números, é difícil encontrar culpados. Foram 12 jogos, com oito vitórias e quatro empates. O time acabou fora do torneio sem ter perdido nenhum jogo. O aproveitamento é próximo de 80%, números que dariam orgulho a qualquer pessoa.

O Papo de Várzea conversou com o técnico do time, Robson Melo, para avaliar a campanha. E a resposta foi sincera: “O grande problema foi que vacilamos três vezes seguidas. E justamente quando não podíamos errar. Empatamos três vezes na mesma fase. Se tivessem sido um empate em uma fase e dois empates na outra, mesmo com esses resultados seguidos, não teríamos sido eliminados”, lamenta.

Só para situar quem não acompanhou: a eliminação veio na Etapa 4, após empates contra 1º de Maio/Tatuapé (1×1), SDX/Cidade Tiradentes (1×1) e Coroado/Guaianases (0x0). Antes dessa série, a equipe vinha de oito vitórias em nove jogos. “O time estava jogando muito bem. Marcando muito, chegando rápido ao ataque, surpreendendo. Saímos sem perder um jogo. Com um aproveitamento que poucos vão ter na história da Kaiser. Foi uma infelicidade grande”.

 

Quem acompanha futebol sabe: em um torneio longo, é impossível passar todas as rodadas em alta. Olhe o Campeonato Brasileiro para ver isso. Fases boas e ruins se alternam e o time que consegue lidar melhor com essas variações é o que termina com o título. O formato de disputa da Copa Kaiser, porém, é muito mais cruel.

Com quase nove meses de duração, é um campeonato dividido em fases de três jogos cada. Quem quer ser campeão precisa estar sempre na ponta dos cascos. Some a isso o fato de envolver atletas amadores, que além do físico, ainda precisam se preocupar em como vão ganhar a vida e você tem um desafio enorme para motivar um grupo de atletas durante a competição.

No caso do Ajax, existia, ainda, um outro agravante: nenhum time da várzea era tão conhecido. O time, que conta com uma das torcidas mais fanáticas da cidade, entrava em campo sempre sob a lupa, com “olheiros” de todos os rivais buscando pontos fortes para anular e fracos para explorar. “Era nítido quando a gente entrava em campo. Todo mundo joga com mais vontade contra o Ajax. Isso já acontecia antes do título. Depois do título, isso aumentou”.

O comando do Ajax até tentou criar surpresas. Trouxe o meia Nenê, um dos destaques da Copa Kaiser no ano passado (foi finalista com a Turma do Baffô/Jardim Clímax) e renovou o banco – quase todos os atletas foram trocados. E manteve a base forte que tinha sido campeã. Incluindo, aí, a manutenção do nigeriano Daniel Eze, artilheiro do time com quatro gols, que no ano passado jogou pouco, com uma lesão no joelho. Mas nem mesmo isso evitou uma oscilação do time em um momento chave do torneio.

Como sempre acontece no futebol, as mudanças não demoraram. Na semana em que foi eliminado, o técnico Robson já confirmava que estava fora do time. “Meu ciclo no Ajax terminou. Foram dois anos aqui. No ano passado, fomos abençoados com o título. Nesse ano, outro time será abençoado. É bom para a várzea”.

Aos 35 anos, porém, ele tem muito futuro. Em 2012, ele era auxiliar-técnico de Ajax. O titular era Tukinha, ex-jogador, lenda do próprio Ajax. Tukinha era quem botava a cara, ficava na linha lateral, era o alvo da torcida. Robson era o homem dos bastidores, analisava os adversários taticamente e, para muitos, era o responsável pelo bom futebol do time. Virou técnico nesse ano. E segue invicto. No ano que vem, certamente estará em outra equipe, valorizado pela campanha.

No Ajax, a busca por um novo comandante está praticamente definida. Algumas pessoas contaram ao blog que o nome deve sair da Série B da própria Kaiser.