Banda usa a várzea para unir futebol, heavy metal e bossa nova
UOL Esporte
Por Maurício Dehò
Futebol e música andam lado a lado no Brasil. Quem nunca parou para ouvir “Partida de Futebol”, do Skank, um verdadeiro hino esportivo, e concordou com a letra que fala do sonho de ser um astro da bola? A banda paulistana Huaska, que mistura em seu som heavy metal e bossa nova, gravou uma música que pode, também, virar um clássico. E, ainda por cima, falando de futebol de várzea.
“Gávea” fala sobre a paixão nacional em uma versão simples: é um jogo de várzea que poderia acontecer em qualquer lugar do Brasil. Tudo o que você costuma ver nas peladas em um terrão está lá, na letra. O campinho cheio de desnível. O olheiro procurando o próximo craque. A torcida pequena, mas muito empolgada. O juizão que se complica com as marcações. E a boa e velha confusão… Quem ouve, volta para um tempo em que o futebol era aquele com os amigos do bairro, no terreno baldio atrás da escola. É um sentimento bem diferente do futebol profissional, carrancudo e sem brilho que se vê na televisão.
A música foi lançada pelo quinteto no disco “Samba de Preto”, de 2012. A letra e a melodia são dos compositores Alegre Côrrea e Márcio Tubino, que fazem sucesso no universo do jazz na Europa. Ao entrar no radar do grupo, por meio do produtor com quem trabalham, a decisão de gravar não demorou.
“A gente curte muito futebol, mas nunca tínhamos abordado esse tema. Ouvimos a música meio sem querer. Nosso produtor mostrou e, de cara, quisemos gravar. Não é muito a cara da banda. Costumamos escrever sobre relacionamentos, saudades, perda. Essa é aquela música que a gente queria ter feito, mas nunca ousou fazer”, conta o vocalista Rafael Moromizato, são-paulino, que tem a companhia de um violonista santista, um guitarrista torcedor da Lusa e um baterista doente que acompanha o Palmeiras pelo país.
Rafael conta que os detalhes e cenários ricos da letra o impressionaram. Combinando tudo isso com a melodia marcante, “Gávea” rapidamente virou presença constante no repertório do Huaska.
“O que eu mais gosto da letra é que ela descreve um jogo que rola em qualquer fim de semana, em qualquer lugar do Brasil. Até mais do que os campeonatos oficiais, existem muitos campeonatos assim, desconhecidos, com suas rivalidades locais. E a letra descreve muito a situação da torcida, do campo, do juiz, do olheiro, do clima”.
“Todo mundo que gosta de futebol se identifica. E o legal é que foge do mundo do futebol profissional. Quando era pequeno, eu lembro que era time contra time, sem politicagem, sem pilantras, sem cartolas. Era só futebol, sem tanta coisa que às vezes a gente nem gosta de saber, para não quebrar o encanto”, acrescenta.
A banda já chegou a apresentar a canção com a participação de Elza Soares, veterana do samba que é amiga e colaboradora do grupo. A cantora gravou a música Samba de Preto no último disco do Huaska.
“Sempre tocamos, é uma das que virou uma das favoritas. Tivemos a oportunidade de ter a Elza em um show recente e ela é flamenguista, gosta bastante de futebol. Então, falamos para ela cantar também a Gávea, que tinha tudo a ver com ela. Foi uma felicidade, ela curtiu muito”, concluiu Rafael.
Confira a letra:
No domingo no campo da Gávea é día de jogo e um olheiro foi ver.
Quebra-Osso Clube de Regatas contra o Frente Rubra do Cine ABC.
O juiz foi escolhido na hora, no mando de campo,
Quebra que ganhou.
O gramado tinha uma baixada e sabiam,
É mole, só lançar que é gol.
Dado o apito inicial, o povo se chegou
e o olheiro gritou: “toca aqui.
sou o Bráulio, zagueiro do América, amigo do Edu e Didi.”
Quando a turma entendeu, o negócio engrossou
e o campinho se modificou.
Ficou como o Maraca lotado e o time da casa que se superou.
No afan de atacar, a defesa dormiu e do nada o contra surgiu.
Lançamento em profundidade. O goleiro, sozinho, a bola nem viu.
Um a zero. e agora a torcida do time da casa já fora de si.
Dava aquele incentivo danado. se perder o jogo, não saio daqui.
Mas começou segundão e a baixada
virou contra o Quebra, que desesperou.
Contra-ataque outra vez, morro abaixo.
Defesa e atacante. Outro gol.
Mas o goleiro fugiu, uma lata voou, o juiz apitou o final.
E o Bráulio, coitado, acusado de ser o culpado,
acabou no hospital.
O juiz foi pro mato, que cara-de-pau.
O goleiro cubano foi preso ilegal.
Foi porrada e risada, vagabundo é mau.
E no outro domingo ainda tem a final.