Papo de Varzea

Arquivo : outubro 2013

A seleção da torcida: Quem foi o melhor goleiro da Copa Kaiser em 2013?
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A Copa Kaiser entrou em sua reta final e o Papo de Várzea quer saber: quem foram os melhores jogadores do ano? Resolvemos, então, perguntar para a torcida. Quando o campeonato terminar, você vai descobrir quem entrou na seleção.

São sete enquetes diferentes, que já estão no ar para você votar:

Goleiro

Lateral direito

Lateral esquerdo

Zagueiro

Volante

Meia

Atacante

Antes que você reclame que determinado jogador não está na lista, vai o aviso: os candidatos foram escolhidos com base nos atletas que levaram o prêmio de Craque Kaiser (a eleição do melhor da partida).


São Carlos ganha do Pioneer, mas fica sem a vaga
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O Jardim São Carlos, de Guaianases, venceu o Pioneer, da Vila Guacuri, por 2 a 1. O resultado do jogo no Anhanguera, na zona sul, porém, não valeu muito. Os dois times acabaram eliminados nas quartas de final da Copa Kaiser.

Para se classificar, o São Carlos tinha a dura tarefa ganhar do Pioneer e ainda torcer para que, no outro jogo do grupo, o Família 100 Valor ganhasse do Danúbio. Não aconteceu: o jogo terminou em 2 a 2, eliminado os dois times que entraram em capo no Anhanguera.

Mesmo assim, foi uma boa partida. O São Carlos começou em cima, procurando abrir o placar logo. No quarto minuto de jogo, já incomodava. Baraúna fez boa jogada no meio-campo e arriscou o chute, que saiu rasteiro, no cantinho. O goleiro Celso, do Pioneer, fez a defesa.

Aos nove minutos, Celso levou outro susto. Jackson recebeu lançamento na ponta esquerda e viu Barriga, sozinho, na entrada da área. Ele dominou e bateu forte, mas Celso, bem colocado, fez a defesa. Na sequência, Marcinho que fez ótimo lançamento e achou Baraúna livre na ponta esquerda. O atacante bateu cruzado, com veneno. Novamente o goleiro Celso se esticou todo.

O Pioneer só chegou ao ataque aos 14 minutos. Alemão tocou para Ricardo, que avançou e bateu na saída do goleiro Marins. A bola saiu. O São Carlos não se importou com o lance de perigo. Marcinho, mais uma vez, fez ótimo lançamento para Jackson na ponta direita. Ele foi até a linha de fundo e bateu para trás. Barriga fez o corta luz e a bola sobrou limpa para Baraúna, que chegou batendo de primeira, para fora. Aos 22 minutos, foi a vez de Baraúna dar trabalho para Celso. Ele Recebeu na esquerda, bateu no canto e, novamente, o goleiro foi buscar.

Pressionado, o Pioneer, quando chegava ao ataque, sempre levava perigo. Aos 24 minutos, Ricardo recebeu na ponta esquerda e tocou para o atacante Rodrigo. Ele bateu colocado e passou perto. O primeiro gol do São Carlos saiu de bola parada, aos 30 minutos. Baraúna cobrou e a zaga do Pioneer vacilou. Marcinho, meio deslocado, abriu o placar. O São Carlos quase aumento dois minutos depois. Marcinho lançou Baraúna, que arriscou o chute. Celso pegou mais uma.

No último lance do primeiro tempo, o empate quase saiu. Gilmar bateu o escanteio e os zagueiros do São Carlos ficaram olhando. O atacante Magrão subiu sozinho e cabeceou forte. Marins evitou o gol com uma grande defesa.

A segunda etapa começou com o Pioneer melhor. Aos três minutos, Magrão recebeu na intermediaria e fez o pivô para Mentirinha. O volante chegou batendo de primeira e obrigou Marins a espalmar para escanteio.

Na cobrança, Gilmar quase fez olímpico: a bola pegou uma curva grande e explodiu no travessão. Aos 16 minutos, nem o goleiro, nem a trave impediram o gol. Gilmar bateu mais um escanteio e Marins socou a bola. No rebote, já fora da área, Rodrigo usou a perna esquerda para, de primeira, fazer o gol.

Com a partida empatada, restava ao São Carlos ir para o ataque e tentar fazer o gol da vitória (e ainda sonhar com a semifinal). Aos 25 minutos, Rinaldo fez boa jogada individual na ponta esquerda e cruzou para o atacante Luizinho. Ele subiu sozinho e testou para fora.

No último lance, quando todos já estavam esperando o empate, surgiu um contra-ataque rápido do São Carlos. Jackson fez boa jogada no bico da grande área e tocou para Luizinho. Ele só ajeitou para Marcinho bater de curva. A bola foi rente à grama e no pé da trave. O goleiro Celso pulou, mas não achou nada. Era o segundo gol de Marcinho na partida.

O texto foi feito pelo parceiro do blog Eduardo Lima. Segurança, ele faz questão de correr pelos campos aos fins de semana atrás das melhores partidas. Escreve, também, para o Jornal É Nosso.

Este é o “Voz do Terrão”. É o espaço que o Papo de Várzea oferece para que você conte a história do jogo que assistiu no fim de se semana. Você quer participar? Mande o relato pelo e-mail papodevarzea@gmail.com


Metalúrgico é campeão da Zona Sul na série B da Copa Kaiser
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No domingo, a Série B da Copa Kaiser conheceu seus campeões regionais. Na Zona Sul, o Metalúrgico, de Heliópolis, acabou com o título. O time bateu Portuguesa, da Vila das Belezas, por 2 a 1. As duas equipes tinham se encontrado na fase anterior, com placar idêntico. Em seu primeiro ano na Série B, o time de Heliópolis já conseguiu o acesso para a elite.

A partida começou equilibrada, com as duas equipes se estudando em campo. A marcação não dava espaços e os chutes, que já eram raros, só saiam de longa distancia (e ainda por cima sem direção). O primeiro ataque com perigo foi aos 15 minutos, com o volante Willians, do Metalúrgico. Ele fez boa jogada no meio campo e tocou para o meia Osvaldinho, que bateu forte. A bola passou perto do travessão e saiu em tiro de meta, para alivio do goleiro Thiago, da Portuguesa.

A resposta veio dez minutos depois, com Rafinha. Ele fez boa jogada na intermediaria e tocou para Henrique, que dominou, limpou a jogada e bateu colocado, no cantinho do goleiro Tatu. Ele se esticou todo e colocou a bola para escanteio, evitando o gol.

Na cobrança do escanteio, a Portuguesa quase abriu o placar. A bola na área ficou viva e Rafinha bateu forte. A zaga do Metalúrgico tirou em cima da linha. No contra-ataque, Jajá recebeu lançamento na ponta esquerda e tocou para Maicon, o artilheiro da Portuguesa. Cara a cara com Thiago, o matador bateu para fora.

No último lance do primeiro tempo, já nos acréscimos, Eder fez bom lançamento para Maicon. Ele cruzou da linha de fundo. O goleiro fez a defesa parcial e, no rebote, Jajá, sozinho, só empurrou para o gol. Metalúrgico 1 a 0.

A segunda etapa começou com domínio da Portuguesa. Perdendo, a equipe teve que sair mais para buscar o empate.  Conseguiu logo aos oito minutos. Em cobrança de falta rápida, a bola chegou aos pés do habilidoso Lu. Ele fez linda jogada, saindo de três marcadores, e bateu colocado. A bola fez uma curva perfeita e saiu do alcance de Tatu.

A Portuguesa insistiu e chegou novamente aos 11 minutos. Lu lançou Rafinha, que adiantou a bola. Tatu foi ligeiro e fez a defesa. Aos 17, a Portuguesa perdeu outra chance. Rafinha deixou Lu sozinho, que bateu na saída do goleiro. Era o gol da virada, mas o árbitro da partida, Valmir Batista, apitou falta, sem aplicar a lei da vantagem. Reclamação geral da Portuguesa com o gol anulado.

O Metalúrgico só chegou ao ataque aos 25 minutos, com Willians. Ele arriscou do meio da rua e Thiago se esticou todo, espalmando para escanteio. O ataque acordou o Metalúrgico e, aos 32, Willians bateu falta perto da lateral. A bola tinha endereço certo, mas Thiago, novamente, fez ótima defesa. Na cobrança do escanteio, a zaga da Portuguesa ficou parada. Osvaldinho subiu sozinho e escorou o escanteio, fazendo o segundo gol do Metalúrgico.

Nos minutos finais, a Portuguesa fez pressão e tentou empatar. O Metalúrgico se fechou e segurou a vitória por 2 a 1. Ao fim da partida, os jogadores da Portuguesa ficaram revoltados e foram reclamar com a arbitragem pelo gol anulado. No meio do tumulto, o juiz acabou expulsando três atletas.

Agora, o Metalúrgico vai jogar a semifinal geral. A partida será no próximo domingo, às 12h30, no campo do Anhanguera, na zona Sul de São Paulo. O rival será o Santa Cruz, do Jardim Sinhá, da zona Leste.

O texto foi feito pelo parceiro do blog Eduardo Lima. Segurança, ele faz questão de correr pelos campos aos fins de semana atrás das melhores partidas. Escreve, também, para o Jornal É Nosso.

Este é o “Voz do Terrão”. É o espaço que o Papo de Várzea oferece para que você conte a história do jogo que assistiu no fim de se semana. Você quer participar? Mande o relato pelo e-mail papodevarzea@gmail.com


Jogador infiltrado: reza pré-jogo evoluiu e é muito mais do que pai-nosso
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Dizem que, se fé ganhasse jogo, o campeonato baiano acabaria empatado. A verdade é que, acreditando ou não, jogador de futebol segue a linha do religiosamente correto. Cada um tem a sua religião e a sua maneira de se comunicar com Deus. Há alguns anos, tudo acabava em um pai-nosso, com as mãos voltadas para o céu. Mas isso está mudando.

Quando comecei, o técnico puxava o pai-nosso, o massagista a ave-maria e todos partiam confiantes para a partida. Hoje, a variação é muito maior. A religiosidade dos jogadores mudou e você encontra evangélicos, luteranos, católicos e tudo mais. E cada um reza de um jeito. Um puxa a oração. Outro levanta os braços e fica em silêncio. O que está lá atrás faz uma prece pessoal, pedindo proteção.

Até quem não é exatamente religioso se rende. Conheci muitos que nunca pisaram em uma igreja ou compareceram a cultos, mas antes de entrar em campo, eram os primeiros a puxar a fila dos pedidos a Deus.  Um atacante do meu time segue essa linha. Provocador e catimbeiro, é sempre o motivo das brigas em campo. Com canela fina, cabelo arrepiado e sem papas nas língua, ele “causa” em todo jogo. Eu sempre aviso: “Dá uma segurada, meu irmão. Assim, nem Deus aguenta”. Do jeito que é, deveria estar na igreja todos os dias. Já escapou de cada uma que até Deus duvida…

Quem também tem uma história legal em sua relação com Deus é meu zagueiro. Antes de todos os jogos, ele pede desculpas a Deus pelo que pode acontecer. Arrepia os adversários, levanta os atacantes e assusta a torcida rival. Quando o juiz apita, pede desculpas novamente. Algumas vezes, o pedido de perdão vem no meio das partidas. É o famoso “morde e assopra”. Ter um zagueiro de Deus é assim mesmo. Dentro de campo, do pescoço para baixo é canela!

A verdade é que o futebol é um meio em que a religiosidade exerce uma função importante. Acreditar em Deus dá força, causa uma sensação de confiança para os jogadores entrarem em campo na temperatura certa para o duelo. Isso transforma o vestiário em um local sagrado: todas as crenças são aceitas, sem preconceito.

Quando o UOL Esporte mergulhou no futebol de várzea, viu que as pessoas eram atenciosas, mas evitavam alguns assuntos. Quanto os jogadores ganham? Como é a relação jogador/treinador? Torcida tem poder? Para responder a tudo isso, o Papo de Várzea encontrou um espião. Ele é um veterano do futebol amador que aceitou contar  os segredos do futebol amador. A cada mês, um tema novo!

Veja o que já foi publicado:

Vestiário de futebol virou salão de beleza

Superstições: tem craque que coloca grama na cueca para dar sorte

Varzeano também aproveita a sobra das marias-chuteiras do profissional

Várzea e apelidos. Não tem essa de politicamente correto

Torcida faz festa, mas pode expulsar jogador antes de chegar ao vestiário

 


Família 100 Valor bate o Pioneer e é o primeiro semifinalista
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Obs: Esse texto é da semana passada. Só agora, porém, conseguimos encontrar tempo para a edição…

Na semana passada, o Família 100 Valor, do Jardim Panamericano, ganhou por 3 a 2 do Pioneer, da Vila Guacuri. Com o resultado, o time da Zona Oeste se tornou o primeiro semifinalista da Copa Kaiser. Era o segundo encontro das equipes na competição. No primeiro jogo, há um mês, no mesmo campo do Nacional, na Barra Funda, o placar não saiu do zero.

A partida começou equilibrada. As duas equipes se estudavam em campo, sem dar espaços para o rival. O 100 Valor estava com a equipe completa. Já o Pioneer apresentava uma mudança tática: o técnico Marquinho escalou três volantes, com a entrada de Silas no time titular.

O primeiro ataque com perigo foi do 100 Valor, aos dez minutos. O atacante Lê, artilheiro da equipe, recebeu passe no meio-campo e arriscou. A bola ia no cantinho, mas o goleiro Celso fez a defesa.

A resposta do Pioneer foi rápida. Aos 12 minutos, o lateral esquerdo Gilmar bateu a falta. A zaga do 100 Valor afastou mal. O atacante Magrão brigou e a bola sobrou para Rodnei. Ele bateu de virada, em direção ao canto. O goleiro Júlio César, do 100 Valor, fez grande defesa, espalmando para escanteio e evitando o gol. Aos 20 minutos, o Pioneer voltou a incomodar o goleirão. O atacante Rodrigo bateu a falta, que foi na gaveta. Julio Cesar se esticou todo e fez a defesa novamente.

Cinco minutos depois, o primeiro gol saiu. Leandro bateu escanteio e o volante Bia subiu no meio da zaga do Pioneer. Com um leve desvio de cabeça, fez o primeiro do 100 Valor, para delírio da grande torcida verde e branca. Mas não deu tempo para comemorar: na saída da bola, a defesa do 100 Valor vacilou e Rodrigo Pio, sozinho, não desperdiçou. De cabeça, na saída do goleiro Julio Cesar, ele empatou a partida.

Depois do empate, o 100 Valor chegou mais duas vezes no ataque com perigo. A primeira foi com o centroavante Didi, que recebeu o lançamento da intermediaria e arriscou o chute. Celso defendeu. A segunda foi uma tabela entre os atacantes. Didi tocou para Lê, que devolveu de calcanhar. Didi, cara a cara com o goleiro, perdeu. Celso fechou o ângulo e fez grande defesa.

Na segunda etapa, os dois times mudaram. No 100 Valor, Du entrou no lugar do Leandro. No Pioneer, o volante Silas e o zagueiro Diego deram lugar a Ricardo e Ted.

Aos 5 minutos, o 100 Valor mostrou que as trocas foram benéficas. Du bateu falta e o meio-campista Baiano subiu mais que a zaga do Pioneer. Sem querer, desviou para o fundo da meta. O 100 Valor quase fez o terceiro antes dos 20 minutos. Aos 17, Lê fez boa jogada e tocou para Miranda, dentro da grande área. Ele soltou a bomba e Celso se esticou para fazer a defesa. Aos 19, Lê, de novo, deixou Gão livre. Ele dominou e chutou forte, para outra defesa de Celso.

O Pioneer só chegou com perigo aos 20 minutos. Wellington fez boa jogada no meio campo e tocou para Rodrigo Pio, sozinho. Na cara com Julio Cesar, bateu em cima do goleiro e perdeu ótima oportunidade de empatar.

O 100 Valor aproveitou e ampliou. Aos 25 minutos, Didi fez boa inversão de jogo e achou Du em boa condição. Ele avançou pela linha de fundo e cruzou. A defesa do Pioneer bateu cabeça e o oportunista Didi só empurrou para o gol.

Com o placar de 3 a 1, o 100 Valor se fechou na defesa. Foi aí que a equipe do Pioneer cresceu. Aos 27 minutos, Rodrigo Pio bateu colocado e Julio Cesar fez a ponte, tocando para escanteio. O gol veio chorado, aos 32 minutos. Willians dividiu com o goleiro e a bola ficou viva dentro da área. Pio, no meio da zaga, bateu forte e diminuiu o placar.

Na última bola do jogo, já nos acréscimos, o Pioneer quase empatou. Vagnão cobrou escanteio na cabeça de Pio, que testou forte. A bola tinha endereço certo, mas Julio Cesar rebateu para escanteio.

O texto foi feito pelo parceiro do blog Eduardo Lima. Segurança, ele faz questão de correr pelos campos aos fins de semana atrás das melhores partidas. Escreve, também, para o Jornal É Nosso.

Este é o “Voz do Terrão”. É o espaço que o Papo de Várzea oferece para que você conte a história do jogo que assistiu no fim de se semana. Você quer participar? Mande o relato pelo e-mail papodevarzea@gmail.com


Tensão à flor da pele: Vila Izabel e Inajar empatam e são eliminados
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No domingo, o campo do Magnólia lotou para o duelo entre Inajar de Souza e Vila Izabel. Os torcedores dos dois clubes, porém, não saíram felizes: com o empate em 1 a 1, ambos acabaram eliminados. Os dois times tinham, na teoria, chance de classificação. O Inajar precisava vencer, mas dependia de um tropeço do Nápoli na outra partida do grupo. Já o Vila Izabel só precisava vencer. Confira o jogo (e a emoção do alambrado)…

 


Goleiro ignora falta de uma perna e segura artilheiros na várzea
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Está vendo a foto aí em cima? Sim, esse goleiro não tem uma perna. E não tem vergonha disso. “A deficiência está na cabeça”, avisa Alexandre Toledo. Aos 37 anos, ele convive com a falta da perna esquerda desde 1996. Em 16 anos, se tornou uma verdadeira lenda dos campos de várzea de São Paulo.

No início do ano passado, quando o UOL Esporte começou a buscar, com mais intensidade, histórias diferentes no futebol amador, a história do goleiro sem perna apareceu. “Na Lapa existe um goleiro sem perna”, dizia um. “Eu vi o cara pegando pênalti”, avisava o outro. Mas onde encontrá-lo? Ninguém parecia saber. Era quase uma lenda urbana.

“Um dia, estava esperando a hora de entrar em campo e um amigo meu me disse: ‘olha o goleirão’. Não vi nada demais. Mas quando a bola estava indo em direção ao gol, percebi o motivo do espanto. Ele não tinha uma perna”, disse o empresário André Kiss, que jogou futebol em uma universidade nos EUA e hoje corre atrás da bola nos terrões da cidade.

Há alguns dias, o próprio Alexandre se apresentou. Mandou um e-mail para o Papo de Várzea, o blog de futebol amador do UOL, com um vídeo e o assunto: “Deficiente defende um pênalti”. Após uma troca rápida de mensagens, admitiu que ele era o goleiro. E que queria contar a sua história.

No último sábado, a reportagem foi até um dos jogos de sua equipe, o Moleque Travesso do Rio Pequeno. O rival, o Jardim Wilson, venceu por 5 a 4. Não foi culpa de Alexandre. Ele tomou cinco gols, três deles enquanto seu time estava com um a menos. Quando a partida começou, com quase 40 minutos de atraso, ao menos quatro jogadores do Moleque Travesso ainda não tinha chegado.

 

Com um a mais, o Jardim Wilson explorou justamente a maior dificuldade de Alexandre: a saída de bola. Por duas vezes, os atacantes aproveitaram lançamentos longos e tocaram na saída do goleirão. Quem não está acostumado, certamente, achou que foi culpa do goleiro e de sua deficiência. Quem estava em campo garante que não foi.

“Pode até parecer falha, mas dentro de campo, você consegue ver que ele tem qualidade. Ele sai pulando, todo mundo acha que ele é lento, mas é muito rápido. E ainda por cima se posiciona muito bem. Fecha o ângulo direitinho”, diz Alexandre Pereira Jorge, o Tiguês, lateral direito do time rival.

As defesas de Alexandre comprovam isso. Em uma delas, pegou uma bola a queima roupa, com o atacante chutando cruzado. Usou a perna. Em outra, uma cabeçada dentro da área, fez uma bela ponte para defender de mão trocada. Nas duas ocasiões, executou movimentos que poucos goleiros na várzea conseguem.

“Quando começa o jogo, você ouve que o atacante vai chutar no lado em que falta a perna. Ou que é só chutar que a bola entra. Mas não é assim. É claro que eu tenho dificuldades. E a saída de bola, como o jogo mostrou, é a maior delas. Eu saio do gol pulando, não correndo. E é muito mais difícil para chegar no atacante. Mas nas outras jogadas eu consigo me virar muito bem”, analisa Alexandre.

Muito bem, mesmo. Imagine passar uma hora, uma hora e meia, em um pé só. Para quem tem duas pernas, é uma tarefa quase impossível. Imagine jogar bola, então… Quando Alexandre teve de amputar a perna, também pensava assim. Sofreu o acidente em 1996. Estava de moto e colidiu com um carro que vinha na contramão. “Na hora, achei que só tinha quebrado a perna. Senti o inchaço começando, mas achei que iria colocar o gesso e em dois meses iria voltar”. Estava errado.

As fraturas na perna esquerda eram numerosas ele passou meses em cima da cama, dependendo dos outros para fazer tudo. Após um ano tentando a recuperação, os médicos desistiram. Alexandre tinha, então, duas opções: manter a perna, e carregar um peso morto, ou amputar e viver uma vida “quase normal” – aspas do próprio. A carreira no futebol – ele era goleiro de um time profissional de divisões inferiores em Minas Gerais – já estava acabada. A vida “normal”, porém, estava começando.

“Quando chegou a hora de escolher, meu pai disse apoiaria minha decisão. Mas lembrou que ele e minha não estariam ao meu lado para sempre. Não adiantava abaixar a cabeça e ficar chorando. Foi um direto no queixo que ele me deu. E tenho certeza que é graças a isso que sou uma pessoa realizada hoje. Tudo o que eu conquistei até hoje aconteceu depois do acidente. Tenho uma mulher maravilhosa que conheci já após o acidente, um filho que eu amo, meu emprego (trabalha com logística internacional) que adoro, comprei a minha casa”.

Em campo, essa alegria e confiança aparecem. A volta aconteceu na praia. Ele e os amigos estavam em uma casa no litoral, nas folgas de fim de ano, apareceu o convite para uma pelada. Ele levantou do sofá e aceitou. “Todo mundo olhou com espanto. Mas como era na areia, eu fui sem medo de me machucar. Foi lá que percebi que não estava morto para o futebol”.

Já são 16 anos jogando com uma perna só. E jogando bem. Os companheiros de time confiam em Alexandre e seus zagueiros jogam sem pensar duas vezes em proteger o gol. E os rivais o tratam com o respeito que um grande goleiro merece – com ou sem deficiência.

Então, se um dia você estiver passando por um campo de terra e, embaixo das traves, perceber que está faltando alguma coisa no goleirão, pode ficar para assistir. Vale a pena.