Papo de Varzea

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Copa promete agitar ABC
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Papo de Várzea

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A região do ABC, em São Paulo, é uma das mais fortes no futebol de várzea. Um dos varzeanos mais famosos hoje, por exemplo, nasceu em Diadema. Estou falando do zagueiro David Luiz, titular da Seleção Brasileira, que jogou muito nos terrões da sua cidade. E agora, a região se prepara para receber a segunda edição da Copa dos Campeões, que reúne 15 equipes das sete cidades que compõem o Grande ABC.

A partir de 27 de setembro, os melhores times entram em campo para disputar um troféu que só um time conhece. Na última edição, o Casa Grande de Diadema levou o título. Da mesma cidade, os times Imperial e Piraporinha também participam da competição. Santo André será representado pelo Alvinegro e IV Centenário; São Caetano terá América do Sul e Metalúrgicos; Mauá contará com Jardim Canadá e Belenense. Outro Alvi Negro e o Comercial querem levar o título para Ribeirão Pires, assim como o EC DER e Blumenau defenderão São Bernardo, e Guerreiros e Vila São João representam Rio Grande da Serra.

Os jogos serão no formato mata-mata com jogos de ida e volta. Só a final que, assim como a Liga dos Campeões da Europa, terá apenas uma partida. A equipe campeã ganha uma vaga para disputar a cobiçada Copa Libertadores da Várzea, em 2015

Atual campeão entra na 2ª fase

Representantes de cinco times participaram de um programa de TV fechada para esclarecer as regras. Na foto, além de organizadores, estão representados o campeão e vice de Santo André (IV Centenário e Alvi Negro),campeão e terceiro colocado de S.B.Campo (DER e,Blumenau) e o campeão da Copa dos Campeões 2013, (Casa Grande de Diadema). Na primeira fase, participam 14 equipes, classificando apenas sete. Neste fase, o Casa Grande entra para compor oito times que darão continuidade na disputa pelo troféu.

Enquanto isso, no campo mais próximo…

Festa de Cosme e Damião do EC Meninos da Dona Nega
A ONG Campana City, de Santo André, e a Turma do Boteco da Dona Maria convida todos para grande festa de São Cosme e São Damião com o EC Meninos da Dona Nega, falecida em 2010. A festa será dia 28 de setembro, a partir das 14h, na rua Pirancanjuba, s/n, Pq. João Ramalho. Informações 11 4475 3689 (Elvis).

Arthur Alvim completa 77 anos
Uma das mais tradicionais equipes de várzea faz aniversário. Fundado em 8 de setembro de 1937, o AA Arthur Alvim faz completa 77 anos de muito terrão. E muito mesmo, porque o campo na sede do time, que fica perto da Arena Corinthians, mantém seu lindo campo de terra batida até hoje. Parabéns Terremoto Verde!

Nove de Julho e Inajar de Souza fazem clássico
Assim como Corinthians e Palmeiras, como Brasil e Argentina, esses dois times de várzea têm uma rivalidade histórica na Zona Norte. Nove de Julho da Casa Verde e Inajar de Souza da Cachoeirinha entram em campo dia 20 de setembro, às 15h, no Centro Esportivo Pirituba pela Seminfinal da 1ª Copa Bifarma.

Por Diego Viñas, da Varzeapédia


Brasileiro prefere a várzea ao futebol profissional. Quem diz é o Ibope
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Papo de Várzea

Não é segredo para ninguém que o futebol de várzea é apaixonante. A novidade é que o tamanho dessa paixão supera aquela do futebol profissional. E não somos nós, do blog, que estamos dizendo. Na semana passada, o Ibope divulgou uma pesquisa que afirma, categoricamente, que existem mais pessoas dispostas a ir para um campo de várzea assistir a um jogo amador do que a uma partida de futebol profissional no Brasil.

Segundo a pesquisa, em parceria com diário esportivo Lance! (é a mesma que mede o tamanho das torcidas, por exemplo), 10,4% dos brasileiros declararam ir aos estádios para partidas de futebol. O número de pessoas que vão aos campos de várzea? 13,1%. A diferença pode parecer pequena, mas lembre: diz respeito à população total do país. O instituto trabalha com 201 milhões de brasileiros. Isso quer dizer que são 25,5 milhões de pessoas interessadas no futebol de várzea.

Qual a explicação para isso?

A resposta pode ser dividida em duas partes. Primeiro, a rejeição do futebol profissional: como é possível que 67% da população torça para algum time, mas apenas 10% vão ao estádio? As justificativas são falta de segurança (35%), preço do ingresso (17%), falta de conforto (6%), horário dos jogos (4%), falta de transporte público (3%), fase ruim do time (2%) e falta de estacionamento ou seu preço (2%). Outros 35% mencionam outros motivos.

Agora, vamos à várzea. A maioria dessas justificativas para não ir ao estádio não vale para o campo de terra do bairro: você não paga nada para entrar, pode ir a pé (e quando o jogo é longe, o próprio time costuma fretar ônibus para que a torcida acompanhe) e o horário dos jogos costuma ser camarada, no domingo pela manhã ou como um programa logo depois do almoço. Fase ruim do time existe para todos.

Segurança é um tema polêmico: o pessoal do blog, por exemplo, se sente muito mais seguro indo a partidas de várzea. Pode não ter policiamento e a galera costuma aproveitar para usar algumas substâncias proibidas, mas o risco de brigas de torcida é bem menor…

A segunda parte, porém, fica em um terreno muito mais nebuloso. Quem responde que prefere ir a um jogo de várzea pode estar dizendo que prefere jogar futebol com os amigos, aquela pelada de fim de semana, a ir ao estádio. Ou pode estar falando do futebol de várzea mais organizado, aquela dos times quase profissionais. Quando foi a última vez que você conversou com o craque do seu time? Que xingou o técnico e recebeu uma resposta desaforada dele, na hora? E terminou o dia no bar, com os três, rindo da derrota ou da vitória? Na várzea você faz isso. Pode se envolver com o time, viver um ambiente muito mais próximo do que no profissional.

Eu prefiro assim, e você?

Para quem quer saber mais, a pequisa Lance! Ibope do futebol brasileiro pode ser vista aqui:

90% dos brasileiros não costumam ir aos estádios de futebol

Falta de segurança é o principal motivo para torcedor não ir ao estádio

E, se você estava se perguntando porque passamos tanto tempo longe do blog, aqui vai uma boa notícia: vamos voltar a atualizá-lo. Esperamos ter você sempre por aqui…

Por Bruno Doro


Futebol de Várzea – Confira os resultados do final de semana
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1ª Copa Coroado de Futebol Amador:

Dia: 27/07 – Domingo – Arena Coroado
Porto/São Miguel (3)0x0(4) A.A Pacarana/Cid. A.E Carvalho

Dia: 27/07 – Domingo – Arena Codó
E.C Vila Reis/São Miguel Paulista 0X1 E.C Mec/Cid. Tiradentes
Bola Solta/Guaianases 0X1 Comando/Jd Robru

7ª Copa da Paz – Paraisópolis:

Vida Loka 1×0 Renascente
Grêmio União 1×1 Coroado
Nove de Julho 0x1 Pioneer
Palmeirinha 1×1 Sport
Currião 2×3 Interpânico
Paraíbas 0x1 Levanta Poeira
Inter Moinho Velho 0x2 Jd. Jaqueline
Eledy 5×0 Unidos da Tijuco

Fotos cedidas pela rapaziada da Copa da Paz:

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Liga de Futebol SBC – Divisão Especial – FINAL:

EC DER 1×0 EC Palestrinha

 

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 crédito da foto: EC DER

Por Carlão Carbone


“Nunca ganhei nem perdi de 7 a 1. Na várzea, os times eram bons”
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A Copa do Mundo acabou, mas a zoeira é sem limites. Sábado, dia em que o Brasil faria o jogo contra a Holanda, ainda não sabíamos que sofreríamos outra goleada (e nem que a Alemanha seria a campeã). Eu estava no campo do Anhanguera da Barra Funda, ali na Rua dos Italianos, onde conheci o seo Sidney Carlos, o Nariz, de 66 anos, aposentado que há quase 40 anos faz parte da história do time de várzea fundado em 1928. Ele contou que nunca perdeu de 7 a 1 na várzea.

“Eu era volante e aqui no Anhanguera. Nunca vi esse resultado. Nunca ganhei e nem perdi de 7 a 1. Na várzea, eram jogos muito duros, disputados. Os times eram muito bons”, fala.

A maior vitória de que lembra até contou com sete gols, mas longe do vexame brasileiro. “Minha maior vitória foi de 5 a 2, contra o Moocafogo, da Mooca. Inclusive, eu fiz um gol de bicicleta”, diz. “A maior derrota nossa nem foi uma goleada, Mas estávamos há 99 partidas invictos e o Sulamericano do Bom Retiro venceu por 2 a 1, acabando com a chance de 100 jogos de invencibilidade”.

Morador da Casa Verde, Zona Norte, ele também jogou pelo time Diamante Negro. “No meu time tinha Serginho Chulapa, Mauro e Lucas, que saíram da várzea e foram jogar pelo São Paulo. Serginho, na época, chamava Esquerdinha. O futebol precisa mais de varzeanos”.

“Tem que investir na base”

Nariz hoje treina as categorias de base do Anhanguera da Barra Funda, uma garotada de 14 a 17 anos. “A base é o futuro e temos que investir. Temos um garoto de 17 anos que já é artilheiro do Palmeiras na sua categoria”, conta.

Hoje treinador, Nariz teve a honra de fazer curso com Telê Santana, Rubens Minelli e Carlos Alberto Silva. “Tive aulas com esses verdadeiros estrategistas. Hoje, vejo que é um momento de recomeçarmos do zero, senão vamos ficar muito tempo sem ganhar nada. E temos que abrir as portas para os times da várzea”.

Por Diego Viñas, do Varzeapédia


Copa Coroado – Confira os resultados do final de semana 12/07 e 13/07
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Papo de Várzea

Nem as finais da Copa do Mundo conseguiram parar a Copa Coroado. Acompanhe os jogos deste final de semana:

Dia: 12/07 – Sábado – ARENA COROADO
A.C.E Colorado/Castro Alves 2×1 Nave F.C/Guaianases
G.R Kizomba/Cid. Kemel 1×1 Nação Juve F.C/Mooca

Dia: 13/07 – Domingo – Arena Coroado
União da Vila/Lageado (L) 1×4 E.C Vila Reis/São Miguel Paulista (B)
Vila Itaim/Itaim Paulista (C) 4×2 Amigos F.C/Santa Terezinha (J)

Dia: 13/07 – Domingo – Arena Codó
Vila Júlia F.C/Vila Júlia (I) (4)1×1(3) A.C Sarandi/Cid. Tiradentes (D)
A.A Titanus-Codó/Guaianases (M) 2×0 G.E Nova Cidade/A.E Carvalho (A)

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Por Carlão Carbone

 


Ipiranga e Vila Alice se classificam em Santo André, em jogos emocionantes
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Ipiranga bate o Lua Nova de virada

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No último domingo, o Brasil todo parou para a final da Copa do Mundo. Ou melhor: quase todo. Enquanto a Alemanha batia a Argentina por 1 a 0 para conquistar seu quarto título mundial, a última rodada da 1º Divisão de Santo André rolava. Jogando no campo do Stella, o Ipiranga ganhou do Lua Nova por 3 a 2 e garantiu sua classificação para a segunda fase.

O Lua Nova abriu o placar aos 9 minutos do primeiro tempo, com o centroavante Edson. Ele aproveitou escanteio bem cobrado do camisa 10 Marcinho para vencer o goleiro. O empate do Ipiranga saiu aos 28 minutos: Thiago recebeu lançamento na direita e cruzou para Du, que chegou batendo de primeira.

O gol da virada veio no ataque seguinte. O meia Bê dominou na entrada da área e tocou para Du, que foi derrubado dentro da área pênalti. O camisa 10 Baitola chamou a responsabilidade e bateu forte, no canto, fazendo 2 a 1 para o Ipiranga.

No segundo tempo, após 35 minutos de jogo truncado, saiu o terceiro do Ipiranga. Bê roubou a bola na intermediária e tocou para Dudu, que bateu forte. O Lua Nova ainda fez o segundo com Hélio. O lateral direito Marcio arriscou chute da entrada da área, o goleiro Lucas bateu roupa e o atacante aproveitou.

Com a vitória, o Ipiranga se classificou para a segunda fase – o Lua Nova já estava garantido. Nas oitavas de final, o Ipiranga encara o Centenário, no dia 20/7, às 9h, no campo do Nacional (em Santo André).

Vila Alice só empata com rebaixado

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Também no domingo (13/7), o Vila Alice jogou contra um rival já rebaixado e precisava apenas do empate para ir para à próxima fase. O 1 a 1 contra o Aliança, porém, esteve longe de ser tranquilo.

Após um primeiro tempo cheio de chances perdidas, o Aliança marcou o primeiro gol da partida logo aos 8 minutos. Após contra-ataque rápido, Beto colocou Papa-léguas na cara do gol. Ele driblou o goleiro Bilica para marcar.

O gol de empate do Vila Alice saiu de uma jogada duvidosa, aos 23 minutos. Na área do Aliança, a bola bateu na mão do volante Wilson e o árbitro marcou o pênalti. Chiquinho, que tinha acabado de entrar, pegou a bola e bateu firme.

Nas oitavas de final, o Vila Alice vai encarar o Alvi Negro, no dia 20/7, às 11h.

Por Eduardo Lima (editado pelo Papo de Várzea)


Jardim São Carlos é campeão da Copa Nove de Julho
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No último sábado, o Brasil perdia pela segunda vez na Copa do Mundo. Na zona norte de São Paulo, bem longe do estádio Mané Garrincha, alguns brasileiros comemoravam. E com razão: O São Carlos, de Guaianases, conquistou o título da Copa Nove de Julho. Na decisão, bateu o Jardim Regina por 1 a 0, com gol do atacante Thiaguinho no começo do segundo tempo (e quase sem querer). Ao tentar cruzar para a área, o jogador pegou errado e a bola acabou indo para a direção do gol. Depois disso, o Jardim Regina pressionou, chegou a empatar no fim do segundo tempo, mas o gol foi anulado. Confira como foi o jogo no vídeo da galera do “Futebol é Coisa Séria”:

Parabéns ao campeão geral e aos campeões de cada sede. Que o torneio de 2015 seja tão disputado!

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Por Bruno Doro (com fotos de Lucas Ribeiro)


Título alemão e fracasso brasileiro têm almas iguais: o futebol de várzea
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O Brasil, o país do futebol, gosta de se gabar que por aqui nasce um craque a cada esquina. Que é só ir até o campinho do bairro para encontrar o próximo Neymar. O resultado da seleção brasileira em sua própria Copa do Mundo indica que isso está bem longe da verdade. Só que… Será que é assim mesmo?

Para ser sincero, não sei se surgem craques a cada esquina no Brasil. Ninguém sabe. Mas de uma coisa eu tenho certeza: existe muito talento nas ruas brasileiras, jogadores com potencial para brilhar nos campos país a fora. O problema é que esses talentos são jogados no lixo aos montes. E é essa a diferença que a Alemanha esfregou na cara do Brasil com o título da Copa do Mundo, conquistado no domingo.

Depois de dois anos indo, semanalmente, para as periferias acompanhar futebol de várzea, eu consegui ver que existem muitos atletas com potencial para o futebol profissional jogados às moscas. São meias habilidosos que distribuem o jogo com precisão, pontas de lança habilidosos que deixam sempre o centroavante na cara do gol, atacantes rápidos e dribladores que cansam de humilhar seus defensores.

E eles estão nos terrões, ganhando R$ 100, R$ 200 por jogo. Como ninguém sobrevive com isso, são obrigados a levar seu corpo ao limite. Jogam quatro, cinco vezes por fim de semana para completar o orçamento. E quando surge a oportunidade de tentar a sorte no futebol profissional, para a maioria deles já não vale a pena: os destaques da várzea faturam mais de R$ 1500,00 por mês com futebol amador, mais prêmios por performance – alguns clubes são muito bem estruturados, tem patrocinadores, programa de sócio-torcedor e até treinam durante a semana.

No futebol profissional, o salário é fixo, mas menor. Pouco acima do salário mínimo. E o atleta só pode defender um clube, sem ganhos extras. Sem contar o fator calote: nas divisões menores, muitos times não pagam. E os que pagam, ainda podem atrasar. É comum ouvir, na várzea, relatos de atletas que deixaram de ser profissionais após, pela enésima vez, jogar um campeonato estadual por seis meses e receber apenas três meses.

Mas o que a Alemanha tem a ver com isso? A estrutura alemã, ao contrário da brasileira, abraça o futebol amador. Não exclui. A Federação Alemã investe na formação de seus campeonatos e tem uma estrutura gigantesca: são 2344 divisões e 33.633 times ativos. Considerando que cada equipe conta com média de 30 jogadores, o universo de atuação, em competições oficiais, é superior a um milhão de vagas.

No Brasil, o sistema é bem mais modesto. São quatro divisões nacionais e 80 divisões regionais, nas categorias principais. Isso significa que o futebol brasileiro tem, para jogadores adultos, menos 40 mil vagas. Sabe qual o número de praticantes de futebol com que o governo trabalha? Dois milhões.

O resultado disso é um processo de seleção dificílimo. Quem vira jogador profissional no Brasil é herói e talentosíssimo. Mas isso quer dizer também que muita gente simplesmente nunca teve uma chance real de mostrar valor. Se o menino é craque, mas demorou a crescer, dificilmente terá chance nas categorias de base de um time. Se demorou a desenvolver seu talento motor e passou a mostrar talento a partir dos 14 anos, pode esquecer. Já é considerado velho.

Compare com o sistema alemão: eles têm um número similar ao brasileiro de jogadores de futebol, mas um sistema nacional 25 vezes maior. Some a isso, ainda, um programa nacional de capacitação de treinadores. E não só isso, mas um sistema de captação de talentos que funciona. Boa parte dos campeões mundiais foi descoberto em peneiras feitas pela própria federação ao redor do país – e essas peneiras são frequentes. Quem se destaca, pode mostrar se merece jogar em centros de treinamento.

No Brasil? Boa sorte nas peneiras dos clubes… E, mesmo para quem passa, a vida é difícil. Nas categorias de base, a necessidade de vitória em todos os campeonatos faz treinadores optarem pela força em detrimento do talento. Quem jogou bola no colégio sabe que, quando você é criança, quem cresceu e desenvolveu músculos mais cedo leva vantagem no corpo, mesmo não tendo o mesmo talento.

Não se engane: não é por acaso que nos últimos anos revelamos muito mais defensores do que atacantes. Se peneiramos força, vamos encontrar força. Como encontrar talento se ele é esmagado a cada jogada quando é moleque, tentando virar jogador profissional?

E a várzea está justamente nesse meio: os times são independentes de federações. CBF? Puff… Nunca apareceu nem para dar oi. No domingo, o Blog do Rodrigo Mattos noticiou que a Alemanha construiu 1387 campos pelo país na atual administração. A CBF fez três, na Granja Comary, para a seleção brasileira.

Os times amadores, quando recebem atenção do poder público, acabam virando peça de manobra eleitoral. Políticos vão ao local e prometem “grama sintética, alambrado, iluminação, vestiário”. Quando é eleito, reforma o campo e ganha os votos “por toda a vida”. Você acha, de verdade, que é um ambiente propício para a formação de craques?

Olhando para tudo isso, é um milagre que, mesmo nessa situação, ainda tenhamos craques aparecendo por aqui. Jô e William, por exemplo, jogaram muito nos campos de terra de Arthur Alvim e Itaquera antes de serem revelados pelo Corinthians. David Luiz fez o mesmo nos campinhos de Diadema.

Mas quem perde o bonde do futebol e, adolescente, ainda joga no terrão, na maioria das vezes já deu adeus ao sonho de criança. Já sabe que não vai “ser jogador”. O futebol amador é esquecido por aquele futebol que todos vemos na TV. E, enquanto for assim, vamos seguir destruindo possíveis talentos e reclamando, de quatro em quatro anos, que não produzimos mais craques como antigamente.

Por Bruno Doro


Histórias do país da Copa: a importância de um recorde
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Antes da final da Copa Kaiser, o técnico do Nove de Julho, que seria o campeão alguns dias depois, me procurou. “Oi, você sabe qual a idade do técnico mais novo que já ganhou a Copa Kaiser?” Eu não tinha a menor ideia da resposta. “Eu tenho 32 anos. Queria saber se era o mais novo”.

Comecei a pensar sobre o assunto. Será que a idade de um treinador importa tanto assim? Ederson Araújo mostrou que não.

Ele chegou ao Nove de Julho no começo do ano. Um dos times mais difíceis de se comandar do futebol de várzea de São Paulo. A diretoria é apaixonada. A torcida, fanática. Os jogadores com quem já conversei sempre ressaltaram isso. Outro detalhe, o time da casa Verde era obcecado pelo título da Copa Kaiser, mas nunca tinha passado da terceira fase.

Mas, claro, não bastava só isso. Quando Ederson chegou, o time só tinha seis atletas. Ele teve de recrutar mais 17 atletas. “O Nove não é fácil. O trabalho dele foi complicado demais. Mas olha o que esse time conquistou”, elogiou Fernando Pitbull, autor do gol mais importante da história recente do Nove de Julho, que se aposentou no ano passado.

Como Ederson fez isso? Conhecendo muito bem o adversário. A final, contra o Leões da Geolândia, da Vila Medeiros, parecia um desafio perdido. “O Nove tem garra, mas o time do Leões é muito melhor. Mais experiente, mais técnico”. Ouvi a frase de muita gente naquele estádio.

Mas não de Ederson. “Eles jogam com três zagueiros. Vou jogar com três atacantes. Tirar a sobra. Um drible, uma virada de jogo. E um jogador vai sair na cara do gol”. Quando Mosquito recebeu uma bola na esquerda, completamente livre, eu percebi que ali estava um cara diferente dos técnicos que se costuma encontrar no futebol amador. Parabéns, Ederson!

Por Bruno Doro (a foto é Eduardo Lima)